Discurso da Posse de Barack Obama


É importante registrar o discurso da posse de BarackObama, para que possamos acompanhar e comentar sobre a teória e a prática da administração público deste presidente que marca a hisória presidencial dos Estados Unidos...


"Obrigado (Obama, Obama)


Meus compatriotas, Aqui me encontro hoje humilde diante da tarefa à nossa frente, agradecido pela confiança depositada por vocês, atento aos sacrifícios feitos por nossos ancestrais. Agradeço ao presidente Bush pelos seus serviços a esta nação, assim como pela generosidade e pela cooperação mostradas durante esta transição.

Quarenta e quatro americanos, até hoje, prestaram o juramento presidencial. Suas palavras foram ditas durante a maré ascendente da prosperidade e nas águas calmas da paz. Mas frequentemente o juramento é prestado em meio a nuvens crescentes e tempestades ruidosas. Nestes momentos a América foi em frente não apenas graças ao talento e à visão daqueles no poder, mas porque nós, o povo, permanecemos fiéis aos ideais de nossos antecessores e aos nossos documentos fundadores. Foi assim e deve ser assim com esta geração de americanos.

É bem sabido que estamos no meio de uma crise. Nossa nação está em guerra contra uma rede de violência e ódio de longo alcance. Nossa nação está bastante enfraquecida, uma consequência da ganância e da irresponsabilidade de alguns, mas também da nossa incapacidade coletiva de tomar decisões difíceis e preparar a nação para uma nova era. Lares foram perdidos; empregos foram cortados; empresas destruídas.

Nossa saúde é cara demais; nossas escolas deixam muitos para trás; e cada dia traz novas evidências de que a forma como usamos a energia fortalece nossos adversários e ameaça nosso planeta. Eles [os desafios] não serão superados facilmente ou num curto período de tempo.

Mas saiba disso, América: eles serão superados. Estes são os indicadores de uma crise, tema de dados e estatísticas. Menos mensurável, mas não menos profundo, é o solapamento da confiança por todo o nosso país.
Um medo persistente de que o declínio da América seja inevitável, e que a próxima geração deva ter objetivos menores.

Hoje eu lhes digo que os desafios diante de nós são reais. São sérios e são muitos. Eles não serão superados facilmente ou num curto período de tempo.

Mas saiba disso, América: eles serão superados. (aplausos) Neste dia nós nos unimos porque escolhemos a esperança e não o medo, a unidade de objetivo, e não o conflito e a discórdia.

Neste dia viemos proclamar o fim de nossos choramingos e falsas promessas, as recriminações e os dogmas desgastados, que por tempo demais estrangularam nossa política. Ainda somos uma nação jovem, mas, nas palavras das Escrituras, chegou a hora de acabar com as coisas de menino.

Chegou a hora de reafirmar nosso espírito resistente; de optar pela nossa melhor história; de levar adiante esse dom precioso, essa nobre ideia, passada de geração em geração: a promessa divina de que todos são livres, todos são iguais e todos merecem a chance de lutar por sua medida justa de felicidade.
Fonte: Revista Época

Lenda, história e Deusa da mitologia Grega

AFRODITE
Afrodite, na mitologia grega, era a deusa da beleza e da paixão sexual. Originário de Chipre, seu culto estendeu-se a Esparta, Corinto e Atenas.
Seus símbolos eram a pomba, a romã, o cisne e a murta. No panteão romano, Afrodite foi identificada com Vênus.
A mitologia oferecia duas versões de seu nascimento: segundo Hesíodo, na Teogonia, Cronos, filho de Urano, mutilou o pai e atirou ao mar seus órgãos genitais, e Afrodite teria nascido da espuma (em grego, aphros) assim formada; para Homero, ela seria filha de Zeus e Dione, sua consorte em Dodona.
Por ordem de Zeus, Afrodite casou-se com Hefesto, o coxo deus do fogo e o mais feio dos imortais. Foi-lhe muitas vezes infiel, sobretudo com Ares, divindade da guerra, com quem teve, entre outros filhos, Eros e Harmonia.
Outros de seus filhos foram Hermafrodito, com Hermes, e Príapo, com Dioniso. Entre seus amantes mortais, destacaram-se o pastor troiano Anquises, com quem teve Enéias, e o jovem Adônis, célebre por sua beleza.
Afrodite possuía um cinturão mágico de grande poder sedutor e os efeitos de sua paixão eram irresistíveis.
As lendas freqüentemente a mostram ajudando os amantes a superar todos os obstáculos.
À medida que seu culto se estendia pelas cidades gregas, também aumentava o número de seus atributos, quase sempre relacionados com o erotismo e a fertilidade
Fonte: http://www.nomismatike.hpg.ig.com.br/
AFRODITE
Deusa do amor e da beleza. Na lenda de Homero, ela é dita como sendo a filha de Zeus e Dione, uma de suas consortes, mas na Teogonia de Hesíodo, ela é descrita como nascida da espuma do mar e, etimologicamente, seu nome quer dizer "erguida da espuma". De acordo com Homero, Afrodite é a esposa de Hefaístos, o deus das artes manuais. Seus amantes incluem Ares, deus da guerra, que posteriormente foi representado como seu marido. Era a rival de Perséfone, rainha do mundo subterrâneo, pelo o amor do belo jovem Adônis. Talvez a lenda mais famosa sobre Afrodite diga respeito à causa da Guerra de Tróia. Eris, a personificação da discórdia - a única deusa que não foi convidada ao casamento de Peleu e da ninfa Tétis - ressentida com os deuses, arremessou uma maçã dourada no corredor onde se realizava o banquete, sendo que na fruta estavam gravadas as palavras "à mais bela". Quando Zeus se recusou a julgar entre Hera, Atena, e Afrodite, as três deusas que reivindicaram a maçã pediram à Páris, príncipe de Tróia, para fazer a premiação. Cada deusa ofereceu à Paris um suborno: Hera, prometeu-lhe que seria um poderoso governante; Atena que ele alcançaria grande fama militar; e Afrodite que ele teria a mulher humana mais linda do mundo. Páris declarou Afrodite como a mais bela e escolheu como prêmio Helena, a esposa do rei grego Menelau. O rapto de Helena por Páris foi a causa da Guerra de Tróia.
Fonte: geocities.yahoo.com.br
AFRODITE
Afrodite ou Aphrodite, na mitologia grega, era a deusa da beleza e da paixão sexual. Originário de Chipre, seu culto estendeu-se a Esparta, Corinto e Atenas.
Teogonia
Aphrodite é a Deusa grega do amor, beleza, fertilidade e êxtase sexual. De acordo com o mito mais aceito, ela nasceu quando Uranus (o Deus pai dos Titãs) foi castrado por seu filho Chronos. Chronos atirou os genitais cortados de Uranus no oceano, que começou a ferver e espumar. Do aphros ("espuma do mar"), se ergueu Aphrodite e o mar a carregou para Chipre. Por isso um de seus epítetos é Kypris. Assim, Aphrodite é de uma geração mais antiga que a maioria dos outros Deuses Olímpicos.
Mais tarde, quando o culto de Zeus usurpou o culto a Dione no bosque sagrado de carvalhos em Dodona, os poetas começaram a lhe atribuir a paternidade de Aphrodite, oriunda de sua união com Dione.
A literatura platônica chama a Aphrodite nascida do primeiro mito de Aphrodite Urania, ou Celestial, e a nascida do segundo mito de Aphrodite Pandemos, ou Comum. O platonismo associa Urania com o amor espiritual, enquanto Pandemos é associada ao amor carnal. É interessante notar que Urânia é também associada ao homossexualismo, considerado pelos platônicos como "mais celeste" que o heterossexualismo, atribuído a Pandemos.
Casamento
Após destronar Chronos, Zeus ficou ressentido pois tão grande era o poder sedutor de Aphrodite que ele e os demais Deuses estavam brigando o tempo todo pelos encantos dela, enquanto esta os desprezava a todos. Como vingança e punição, Zeus a fez se casar com o Deus ferreiro Hephaestus. Hephaestus usou toda sua perícia para cobri-la com as melhores jóias do mundo, inclusive um cinto mágico do mais fino ouro, entrelaçado com filigranas mágicas. Isso não foi muito sábio de sua parte, uma vez que quando Aphrodite usava esse cinto mágico, ninguém conseguia resistir a seus encantos.
Relacionamentos e filhos
Aphrodite sempre amou a alegria e o glamour, e nunca se satisfez em ser a esposa caseira do trabalhador Hephaestus. Aphrodite amou e foi amada por muitos deuses e mortais. Dentre seus amantes mortais, o mais famoso foi Adônis. Alguns de seus filhos são Hermaphroditus (com Hermes), Eros (com Zeus), Anteros, Phobos, Deimos e Harmonia (com Ares), Hymenaios e Priapus (com Dionysus) e Enéas (com o mortal Anchises). Os diversos filhos de Aphrodite mostram seu domínio sobre as mais diversas faces do amor e da paixão humanas.
Aphrodite era acompanhada por um séqüito de Graças, ou Cáritas, como eram também conhecidas.
Culto
Suas festas eram chamadas de Aphrodisíacas e eram celebradas por toda a Grécia, especialmente em Atenas e Corinto. Suas sacerdotisas eram prostitutas sagradas, que representavam a Deusa, e o sexo com elas era considerado um meio de adoração e contato com a Deusa. Seus símbolos incluem a murta, o golfinho, o pombo, o cisne, a romã e a limeira. Entre seus protegidos contam-se os marinheiros e artesãos.
Com o passar do tempo, e com a substituição da religiosidade matrifocal pela patriarcal, Aphrodite passou a ser vista como uma Deusa frívola e promíscua, como resultado de sua sexualidade liberal. Parte dessa condenação a seu comportamente veio do medo humano frente à natureza incontrolável dos aspectos regidos pela Deusa do Amor.
Deusas relacionadas
Aphrodite tem atributos comuns com as Deusas Freya (nórdica), Vênus (romana), Turan (etrusca), Ishtar (mesopotâmica) Inanna (suméria) e com a Ashtart (ou Astarte, ou Asterarte - sírio-palestina).
Fonte: pt.wikipedia.org
Portal: São Francisco
ODISSÉIA

Além de constituir, ao lado da Ilíada, obra iniciadora da literatura grega escrita, a Odisséia, de Homero, expressa com força e beleza a grandiosidade da remota civilização grega. A Odisséia data provavelmente do século VIII a.C., quando os gregos, depois de um longo período sem dispor de um sistema de escrita, adotaram o alfabeto fenício.
Na Odisséia ressoa ainda o eco da guerra de Tróia, narrada parcialmente na Ilíada. O título do poema provém do nome do protagonista, o grego Ulisses (Odisseu). Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e marido de Penélope, Ulisses é um dos heróis favoritos de Homero e já aparece na Ilíada como um homem perspicaz, bom conselheiro e bravo guerreiro.
A Odisséia narra as viagens e aventuras de Ulisses em duas etapas: a primeira compreende os acontecimentos que, em nove episódios sucessivos, afastam o herói de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo deus Posêidon.
A segunda consta de mais nove episódios, que descrevem sua volta ao lar sob a proteção da deusa Atena. É também desenvolvido um tema secundário, o da vida na casa de Ulisses durante sua ausência, e o esforço da família para trazê-lo de volta a Ítaca. A Odisséia compõe-se de 24 cantos em verso hexâmetro (seis sílabas), e a ação se inicia dez anos depois da guerra de Tróia, em que Ulisses lutara ao lado dos gregos. A ordem da narrativa é inversa: tem início pelo desfecho, a assembléia dos deuses, em que Zeus decide a volta de Ulisses ao lar. O relato é feito, de forma indireta e em retrospectiva, pelo próprio herói aos feaces - povo mítico grego que habitava a ilha de Esquéria. Hábeis marinheiros, são eles que conduzem Ulisses a Ítaca.
O poema estrutura-se em quatro partes: na primeira (cantos I a IV), intitulada "Assembléia dos deuses", Atena vai a Ítaca animar Telêmaco, filho de Ulisses, na luta contra os pretendentes à mão de Penélope, sua mãe, que decide enviá-lo a Pilos e a Esparta em busca do pai. O herói porém encontra-se na ilha de Ogígia, prisioneiro da deusa Calipso. Na segunda parte, "Nova assembléia dos deuses", Calipso liberta Ulisses, por ordem de Zeus, que atendeu aos pedidos de Atena e enviou Hermes com a missão de comunicar a ordem. Livre do jugo de Calipso, que durou sete anos, Ulisses constrói uma jangada e parte, mas uma tempestade desencadeada por Posêidon lança-o na ilha dos feaces (canto V), onde é descoberto por Nausícaa, filha do rei Alcínoo.
Bem recebido pelo rei (cantos VI a VIII), Ulisses mostra sua força e destreza em competições esportivas que se seguem a um banquete. Na terceira parte, "Narração de Ulisses" (cantos IX a XII), o herói passa a contar a Alcínoo as aventuras que viveu desde a saída de Tróia: sua estada no país dos Cícones, dos Lotófagos e dos Ciclopes; a luta com o ciclope Polifemo; o episódio na ilha de Éolo, rei dos ventos, onde seus companheiros provocam uma violenta tempestade, que os arroja ao país dos canibais, ao abrirem os odres em que estão presos todos os ventos; o encontro com a feiticeira Circe, que transforma os companheiros em porcos; sua passagem pelo país dos mortos, onde reencontra a mãe e personagens da guerra de Tróia. Na quarta parte, "Viagem de retorno", o herói volta à Ítaca, reconduzido pelos feaces (canto XIII). Apesar do disfarce de mendigo, dado por Atena, Ulisses é reconhecido pelo filho, Telêmaco, e por sua fiel ama Euricléia, que, ao lavar-lhe os pés, o identifica por uma cicatriz.
Assediada por inúmeros pretendentes, Penélope promete desposar aquele que conseguir retesar o arco de Ulisses, de maneira que a flecha atravesse 12 machados. Só Ulisses o consegue.
O herói despoja-se em seguida dos andrajos e faz-se reconhecer por Penélope e Laerte. Segue-se a vingança de Ulisses (cantos XIV a XXIV): as almas dos pretendentes são arrastadas aos infernos por Hermes e a história termina quando Atena impõe uma plena reconciliação durante o combate entre Ulisses e os familiares dos mortos.
A concepção do poema é predominantemente dramática e o caráter de Ulisses, marcado por obstinação, lealdade e perseverança em seus propósitos, funciona como elemento de unificação que permeia toda a obra. Aí aparecem fundidas ou combinadas uma série de lendas pertencentes a uma antiqüíssima tradição oral com fundo histórico.
Há forte crença de que a Odisséia reúna temas oriundos da época em que os gregos exploravam e colonizavam o Mediterrâneo ocidental, daí a presença de mitos com seres monstruosos no Ocidente, para eles ainda misterioso. Pela extrema perfeição de seu todo, esse poema tem encantado o homem de todas as épocas e lugares.
É consenso na era moderna que a Odisséia completa a Ilíada como retrato da civilização grega, e as duas juntas testemunham o gênio de Homero e estão entre os pontos mais altos atingidos pela poesia universal.
Fonte: www.nomismatike.hpg.ig.com.br


ODISSÉIA

Além de constituir, ao lado da Ilíada, obra iniciadora da literatura grega escrita, a Odisséia, de Homero, expressa com força e beleza a grandiosidade da remota civilização grega. A Odisséia data provavelmente do século VIII a.C., quando os gregos, depois de um longo período sem dispor de um sistema de escrita, adotaram o alfabeto fenício. Na Odisséia ressoa ainda o eco da guerra de Tróia, narrada parcialmente na Ilíada. O título do poema provém do nome do protagonista, o grego Ulisses (Odisseu).
Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e marido de Penélope, Ulisses é um dos heróis favoritos de Homero e já aparece na Ilíada como um homem perspicaz, bom conselheiro e bravo guerreiro.
A Odisséia narra as viagens e aventuras de Ulisses em duas etapas: a primeira compreende os acontecimentos que, em nove episódios sucessivos, afastam o herói de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo deus Posêidon. A segunda consta de mais nove episódios, que descrevem sua volta ao lar sob a proteção da deusa Atena.
É também desenvolvido um tema secundário, o da vida na casa de Ulisses durante sua ausência, e o esforço da família para trazê-lo de volta a Ítaca. A Odisséia compõe-se de 24 cantos em verso hexâmetro (seis sílabas), e a ação se inicia dez anos depois da guerra de Tróia, em que Ulisses lutara ao lado dos gregos.
A ordem da narrativa é inversa: tem início pelo desfecho, a assembléia dos deuses, em que Zeus decide a volta de Ulisses ao lar.
O relato é feito, de forma indireta e em retrospectiva, pelo próprio herói aos feaces - povo mítico grego que habitava a ilha de Esquéria. Hábeis marinheiros, são eles que conduzem Ulisses a Ítaca. O poema estrutura-se em quatro partes: na primeira (cantos I a IV), intitulada \"Assembléia dos deuses\", Atena vai a Ítaca animar Telêmaco, filho de Ulisses, na luta contra os pretendentes à mão de Penélope, sua mãe, que decide enviá-lo a Pilos e a Esparta em busca do pai.
O herói porém encontra-se na ilha de Ogígia, prisioneiro da deusa Calipso. Na segunda parte, "Nova assembléia dos deuses", Calipso liberta Ulisses, por ordem de Zeus, que atendeu aos pedidos de Atena e enviou Hermes com a missão de comunicar a ordem. Livre do jugo de Calipso, que durou sete anos, Ulisses constrói uma jangada e parte, mas uma tempestade desencadeada por Posêidon lança-o na ilha dos feaces (canto V), onde é descoberto por Nausícaa, filha do rei Alcínoo.
Bem recebido pelo rei (cantos VI a VIII), Ulisses mostra sua força e destreza em competições esportivas que se seguem a um banquete. Na terceira parte, \"Narração de Ulisses\" (cantos IX a XII), o herói passa a contar a Alcínoo as aventuras que viveu desde a saída de Tróia: sua estada no país dos Cícones, dos Lotófagos e dos Ciclopes; a luta com o ciclope Polifemo; o episódio na ilha de Éolo, rei dos ventos, onde seus companheiros provocam uma violenta tempestade, que os arroja ao país dos canibais, ao abrirem os odres em que estão presos todos os ventos; o encontro com a feiticeira Circe, que transforma os companheiros em porcos; sua passagem pelo país dos mortos, onde reencontra a mãe e personagens da guerra de Tróia.
Na quarta parte, \"Viagem de retorno\", o herói volta à Ítaca, reconduzido pelos feaces (canto XIII). Apesar do disfarce de mendigo, dado por Atena, Ulisses é reconhecido pelo filho, Telêmaco, e por sua fiel ama Euricléia, que, ao lavar-lhe os pés, o identifica por uma cicatriz. Assediada por inúmeros pretendentes, Penélope promete desposar aquele que conseguir retesar o arco de Ulisses, de maneira que a flecha atravesse 12 machados.
Só Ulisses o consegue. O herói despoja-se em seguida dos andrajos e faz-se reconhecer por Penélope e Laerte. Segue-se a vingança de Ulisses (cantos XIV a XXIV): as almas dos pretendentes são arrastadas aos infernos por Hermes e a história termina quando Atena impõe uma plena reconciliação durante o combate entre Ulisses e os familiares dos mortos. A concepção do poema é predominantemente dramática e o caráter de Ulisses, marcado por obstinação, lealdade e perseverança em seus propósitos, funciona como elemento de unificação que permeia toda a obra.
Aí aparecem fundidas ou combinadas uma série de lendas pertencentes a uma antiquíssima tradição oral com fundo histórico.
Há forte crença de que a Odisséia reúna temas oriundos da época em que os gregos exploravam e colonizavam o Mediterrâneo ocidental, daí a presença de mitos com seres monstruosos no Ocidente, para eles ainda misterioso. Pela extrema perfeição de seu todo, esse poema tem encantado o homem de todas as épocas e lugares. É consenso na era moderna que a Odisséia completa a Ilíada como retrato da civilização grega, e as duas juntas testemunham o gênio de Homero e estão entre os pontos mais altos atingidos pela poesia universal.
Fonte: www.mitosedeuses.hpg.ig.com.br


ODISSÉIA
A guerra de Tróia aconteceu por causa do seqüestro de Helena, uma exuberante mulher, que encantava todos com sua beleza. Ela era a mais bela das mulheres daquela época. Eles capturaram Helena na cidade de Roma, e a levaram para Tróia.
Em Tróia havia uma fortaleza, onde nenhuma pessoa conseguia entrar sem permissão.
Este livro conta a história de volta da guerra, onde havia um herói da Grécia antiga, seu nome era Ulisses. Este personagem era o guerreiro que comandava a tropa que combateu a fortaleza de Tróia.
Nesta viagem Ulisses teve várias aventuras fantásticas, pois navegava em busca de acertos de conta. Ele passa por vários lugares, onde cada um é uma história. Sua esposa fazia uma coisa que marcou a história ela tecia um tapete de dia e o desmanchava a noite, tudo isso para enganar seus pretendentes. Nesta história também há a participação de deusas da mitologia Grega: Atenas e Afrodite, Afrodite era a deusa da beleza e do amor, e Atenas era a deusa da sabedoria.
Este livro é uma história em verso, mas foi recontada em prosa, pois foi adaptada para a literatura infantil. Suas falas são empolgantes, que te traz mais vontade de ler. E quando acaba, dá vontade de ler de novo. Espero que goste desta leitura.
Fonte: clvceop.vilabol.uol.com.br


ODISSÍEA

"De repente, uma forte gargalhada ecoou às suas costas. Virou-se, de súbito, novamente assustado, com aquela risada que parecia vir do próprio inferno. A visão que teve o fez pensar que, se de fato ele não estivesse no inferno, os demônios de lá haviam fugido. Seus olhos incrédulos avistaram um homem parado no início da descida por onde ele viera. Usava um enorme chapéu e um sobretudo, também de proporções exageradas. Todo de negro. Estava empunhando uma pá..."
Existem diversos tipos de apreciadores do gênero artístico Horror. Há aqueles que se satisfazem plenamente apenas consumindo os infindáveis produtos relacionados, como filmes, revistas, livros, jogos, etc. E há aqueles que, além de consumir, também gostam de produzir, sejam editar fanzines impressos ou sites na internet, escrever contos e artigos de cinema ou literatura, desenhar ilustrações e histórias em quadrinhos, e muitas outras coisas mais. Toda produção alternativa ou pertencente ao chamado universo "underground", ou seja, feito com recursos próprios, sem o apoio ou financiamento de uma fonte externa, devem sempre ter seu trabalho enaltecido, independente dos resultados. É sempre preferível a produção de materiais com qualidade cada vez maiores, porém todo trabalho realizado com idealismo e iniciativa própria tem seu valor inquestionável.
Dentro dessa idéia vale ressaltar a atitude idealista e batalhadora, virtudes reservadas para poucos, do amigo André Bozzetto Junior, da pequena cidade de Ilópolis, no interior do Rio Grande do Sul, cerca de 200 Km distante da capital Porto Alegre. Ele lançou de forma independente em Outubro de 1998 (e tinha apenas 17 anos de idade na época) um interessante romance de horror intitulado "Odisséia nas Sombras", que narra a árdua trajetória de um grupo de amigos ao enfrentar um assassino sobrenatural .
O autor é colaborador do fanzine "Juvenatrix" e do site "Boca do Inferno" (www.bokadoinferno.hpg.com.br), com a publicação de interessantes artigos e resenhas de filmes de horror.
A história do livro é sobre uma pequena cidade do interior aterrorizada por um psicopata assassino, o qual é o responsável pela morte violenta de vários de seus habitantes, com direito a estupros e até atos de necrofilia. Com deficiência mental e problemas de relacionamento durante toda sua vida, ele é conhecido como "O Filho do Coveiro", apelido de Daniel Lima, e acaba sendo descoberto e morto por um "justiceiro" vingador numa misteriosa encruzilhada. Porém, auxiliado por forças sobrenaturais, o assassino retorna do mundo dos mortos, vindo das profundezas sombrias do inferno, fortalecido e em busca de vingança.
Para combatê-lo, surge um grupo de jovens formado por Joel, Luciano e Márcio, os quais tinham envolvimento com as vítimas do psicopata (Sabrina, namorada de Joel e irmã de Luciano, foi uma das que perderam a vida de forma trágica), e que testemunharam eventos insólitos com o assassino, através de encontros mortais ou experiências oníricas sobrenaturais.
A partir daí, tem início uma desgastante e intensa batalha de morte contra o poder maligno de um assassino sedento de ódio, numa longa "odisséia nas sombras cujo ponto final seria uma lágrima de sangue".
A narrativa é leve, fácil de ler em capítulos curtos, sem erros de português, numa história bem conduzida, com personagens definidos e humanizados, e que exerce um fascínio no leitor até a conclusão da obra. Vale destacar também a excelente escolha do título do livro, "Odisséia nas Sombras", plenamente coerente com a história.
É admirável a coragem acertada do autor em matar de forma violenta alguns dos personagens, depois que são apresentados e após criar-se uma certa interação com o leitor. Além da habilidade na exploração de elementos característicos do horror como a figura de um demoníaco "gato preto", com participação frequente na trama e sempre carregada de tensão, e a ambientação macabra de uma "encruzilhada" assombrada, infestada de fantasmas e almas de outro mundo, procurando alívio para seus tormentos.
"Joel e Márcio descarregaram uma saraivada de golpes no animal, que mesmo reduzido a um monte retorcido de pêlos e carne, pulsante e ensanguentado, persistia vivo."
Porém, nota-se também uma certa previsibilidade nos vários eventos que são apresentados, não havendo grandes surpresas ou reviravoltas, e onde um leitor atento consegue captar o que vai acontecer antecipadamente nos capítulos seguintes, principalmente no desfecho trágico envolvendo o confronto final dos jovens e o demoníaco "Filho do Coveiro", num sítio próximo à cidade.
Por curiosidade, vale ressaltar o bom gosto musical do personagem Márcio, onde num momento de tensão antecedendo um encontro com o poderoso assassino, ele procura ouvir a música "Wasted Years" da excepcional banda inglesa de Heavy Metal "Iron Maiden", só para relaxar um pouco...
A despeito de quaisquer eventuais falhas, "Odisséia nas Sombras" é um livro agradável de se ler, curto, rápido, numa interessante história de horror sobrenatural que poderia perfeitamente transformar-se em argumento para um filme. Não existem elementos novos ou originais, possuindo os já conhecidos e tradicionais clichês característicos do gênero, mas certamente serve como um bom entretenimento. E fico imaginando o anti-herói "Filho do Coveiro" como o protagonista de um filme de "serial killer"...
Um fato interessante é que a história permite também a idéia de uma continuação, pois o psicopata tem um irmão gêmeo separado dele na infância e criado pelos tios em outra cidade. Imaginem se ele houvesse herdado igualmente os poderes malignos do irmão assassino e retornasse à cidade para vingá-lo e perpetuar seu legado de sangue... O que poderia acontecer?
Esperaremos pela resposta, talvez, numa próxima "odisséia nas sombras", com a possibilidade de um novo livro do autor explorando esse universo ficcional...
"Joel agitava-se em seu sono povoado de pesadelos. Viu em seu sonho, um lugar escuro, coberto por uma densa névoa, onde ele corria desesperadamente em busca de algo. De repente, tropeçou em alguma coisa, oculta pela névoa e pela escuridão, e com isso, desequilibrou-se e caiu. Quando Joel voltou-se para ver em que havia tropeçado, o pavor dominou-o ao constatar que se tratava da cabeça decapitada de Márcio. Subitamente, ouviu um baque ao seu lado, e então a cabeça também decapitada de Luciano rolou a seus pés. Joel gritou e acordou."
Fonte: www.scarium.com.br

ODISSÉIA

Odisséia, de Homero, define o poema épico antigo, por uma vinculação às raízes primitivas e populares. Entende-se por épica (do grego epos, canto ou narrativa) a narrativa poética de substrato histórico, considerando-se ambas as obras, a Odisséia e a Ilíada, como a codificação de todos os mitos gregos. Os poemas homéricos possuem tom eloqüente em seus versos (hexâmetros) e duração das vogais, como se tivessem sido feitos para serem falados em voz alta.
A poesia Lírica nasceu da fusão do poema épico com o instrumento que a acompanhava, a lira. As formas foram então se diversificando; variedades e novas técnicas surgiram, como: a ode, a elegia, os epitáfios, as canções, as baladas e outras mais que se desenvolveriam posteriormente como o soneto, e o madrigal.
Safo (século VI a.C.) é a primeira poetisa conhecida. Sua obra, dedicada às musas, é uma variedade de poesia lírica: odes, elegias, hinos e epitalâmios. Píndaro foi o primeiro grande criador de odes, que conservava uma narrativa heróica, embora já admitisse um canto pessoal, subjetivo, retratando a vida e experiências do próprio autor.
Simônides de Ceos foi um grande criador de epitáfios, poesia em memória dos heróis mortos.
Outra forma lírica derivada é a poesia bucólica, que teve em Teócrito (século III a.C.) um grande cultor. A primeira característica da poesia lírica é a maior liberdade quanto ao número de sílabas dos versos. Ela também foi de grande influência sobre a poesia dramática, que se apresentava com duplo caráter: épico e lírico (objetivo/subjetivo). A poesia dramática mantinha a narrativa épica, mas transfigurava os narradores nos próprios personagens das ações, pintando seus estados emotivos, o que lhe conferia um sabor lírico.
Os três grandes poetas dramáticos da Antigüidade Clássica são: Eurípedes, Ésquilo e Sófocles. Das inúmeras peças que escreveram, somente algumas foram preservadas, sendo ainda representadas em todas as partes do mundo. Anchieta, em sua campanha catequista, no Brasil do século XVI, usou um subgênero dramático, o auto sacramental, como forma de difusão do ideais cristãos entre os indígenas.
A cultura latina apresenta acentuado mimetismo literário em relação à cultura grega. Virgílio escreveu um grande poema épico, a Eneida, calcado sobre a unidade latina. As Metamorfoses, de Ovídio, também apresentam caráter épico-lírico.
Fonte: www.cfh.ufsc.br


NARCISO




lenda de Narciso, surgida provavelmente da superstição grega segundo a qual contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, possui um simbolismo que fez dela uma das mais duradouras da mitologia grega.
Narciso era um jovem de singular beleza, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia de seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.
Indiferente aos sentimentos alheios, Narciso desprezou o amor da ninfa Eco - segundo outras fontes, do jovem Amantis - e seu egoísmo provocou o castigo dos deuses. Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou a contemplá-la até consumir-se. A flor conhecida pelo nome de Narciso nasceu, então, no lugar onde morrera.
Em outra versão da lenda, Narciso contemplava a própria imagem para recordar os traços da irmã gêmea, morta tragicamente.
Foi, no entanto, a versão tradicional, reproduzida no essencial por Ovídio em Metamorfoses, que se transmitiu à cultura ocidental por intermédio dos autores renascentistas. Na psiquiatria e particularmente na psicanálise, o termo narcisismo designa a condição mórbida do indivíduo que tem interesse exagerado pelo próprio corpo.
Fonte: http://www.nomismatike.hpg.ig.com.br/

NARCISO

Narciso, antes de ser uma personagem da mitologia grega, era simplesmente um rapaz escorreito, não se pode negar; tinha uma cara de príncipe de conto de fadas, usava o cabelo comprido ou curto conforme a ocasião, vestia com gosto e maquilhava-se só com produtos naturais, absolutamente naturais.
Numa terça-feira (ou quinta. tanto dá) acabava de dispor-se para sair, talvez para ir ao teatro (porque ainda não se tinha inventado o cinema) ou talvez a uma festa. Tinha revitalizado os seus lábios com cereja vermelha, branqueado o seu rosto e penteado o seu cabelo. Viu-se ao espelho (o reflexo da água num lago, pois tudo era natural) e contemplou-se com satisfação e disse para si mesmo: "sou mesmo perfeito".
Então Zeus, o deus grego, reparando com quanto deleite Narciso contemplava a sua própria figura, infundiu-lhe um amor desmedido pelo seu próprio eu. Narciso enamorou-se perdidamente por si mesmo. E quis alcançar a sua imagem atirando-se ao tanque, onde morreu infeliz por não se poder possuir.
Esta história da mitologia grega, parece-se com a história dos rapazes que gastam tardes inteiras no ginásio a contemplar os seus bíceps ou das raparigas que não se poupam jornadas esgotantes de ginástica rítmica. "Sou mesmo perfeito" ouvimo-los pensar quando nos salões se põem diante dos espelhos depois de "treinarem", olhando, por diante ou atrás o abdómen dividido em quatro ou seis rectângulos, os músculos dorsais, fazem força para perfilar melhor os bíceps, os peitorais, etc.
Se fores a um ginásio podes ver que sempre há um salão com espelhos onde certamente haverá "teens" e não tão "teens" a avaliar a musculatura dos seus corpos. "Com o suor cutâneo a silhueta dos músculos fica mais definida …", é o que dirão.
Mas narciso não só é o rapaz ou a rapariga que vivem para a figura do seu corpo: há alguns mais refinados, desde os que transmutam o rosto com cosméticos, até aos que além de dietas, roupas e modas, se penteiam com métodos sofisticadíssimos.
A Narciso a morte apanhou-o num tanque. E eu pergunto-me, onde é que a morte apanha os narcisos de hoje, que consomem a sua vida no culto idólatra da sua figura; a sobredosse, excesso de hormonas, e eis os que ficam "tesos" com a cirurgia plástica , etc. "Não, eu só faço exercício" diz algum rapaz frequentador do ginásio …
Viver para o corpo é como morte em vida, pois não vives para ti mesmo nem para os outros, mas para a figura do teu corpo. Sem necessidade de falar da doutrina católica e de que o culto do corpo constitui uma forma de idolatria, um elementar sentido humano adverte-nos contra essas formas de perversão.
O meu corpo não me pertence porque não é uma coisa que se possua, também o meu corpo é a minha casa, como dizia a propaganda sem bases filosóficas. O meu corpo é parte da minha humanidade: sou eu mesmo com a minha alma numa união indivisível.
Ao dar atenção desmedida ao meu corpo, em certo sentido estou a tratá-lo como um objecto que possuo. E não é que não deva atender o meu corpo, dizendo melhor, cuidar e atender-me a mim mesmo e por isso mesmo, como parte inseparável do meu ser, aplicar-me ao cuidado do meu corpo. O ginásio e os aerobics são bons: são saúde. Mas não são um fim em si mesmo.
Da próxima vez que fores ao ginásio, procura não olhar-te ao espelho. Faz exercício físico que te ajude a manter a mente desempoeirada e o espírito aberto. Como dizia o sábio pensamento latino: Orandum ut sit, mens sana in corpore sano; quer dizer, "há que fazer oração para ter uma mente sã num corpo são".
Não esqueças a sentença completa porque o homem é uma unidade de espírito e corpo. E o homem não terá são o quinto andar, se o seu espírito e o seu corpo carecem de harmonia; quer dizer, se não está em paz com Deus, com os outros e consigo mesmo: Orandum ut sit, mens sana in corpore sano.
Fonte: paginaseducacao.no.sapo.pt

NARCISO
"Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava a distrações campestres. Era favorita de Diana e acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava de mais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra.
Certo dia, Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão que estivese se divertindo entre as ninfas. Eco, com sua conversa, conseguiu entreter a deusa, até as ninfas fugirem. Percebendo isto, Juno a condenou com estas palavras:
- Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar.
A ninfa viu Narciso, um belo jovem, que perseguia a caça na montanha. Apaixonou-se por ele e seguiu-lhe os passos. Quanto desejava dirigir-lhe a palavra, dizer-lhe frases gentis e conquistar-lhe o afeto! Isso estava fora de seu poder, contudo. Esperou, com impaciência, que ele falasse primeiro, a fim de que pudesse responder. Certo dia, o jovem, tendo se separado dos companheiros, gritou bem alto:
- Há alguém aqui?
- Aqui - respondeu Eco.
Narciso olhou em torno e, não vendo ninguém, gritou:
- Vem!
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim? - perguntou Narciso
Eco respondeu com a mesma pergunta.
- Vamos nos juntar - disse o jovem.
A donzela repetiu, com todo o ardor, as mesmas palavras e correu para junto de Narciso, pronta a se lançar em seus braços.
- Afasta-te! - exclamou o jovem, recuando. - Prefiro morrer a te deixar possuir-me.
- Possuir-me - disse Eco.
Mas foi tudo em vão. Narciso fugiu e ela foi esconder sua vergonha norecesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. De pesar, seu corpo definhou, até que as carnes desapareceram inteiramente. Os ossos transformaram-se em rochedos e nada mais dela restou além da voz. E, assim, ela ainda continua disposta a responder a quem quer que a chame e conserva o velho hábito de dizer a última palavra.
A crueldade de Narciso nesse caso não constituiu uma exceção. Ele desprezou todas as ninfas, como havia desprezado a pobre Eco. Certo dia, uma donzela que tentara em vão atraí-lo implorou aos deuses que ele viesse algum dia a saber o que é o amor e não ser correspondido. A deusa da vingança (Nêmesis) ouviu a prece e atendeu-a.
Havia uma fonte clara, cuja água parecia de prata, à qual os pastores jamais levavam os rebanhos, nem as cabras monteses freqüentavam, nem qualquer um dos animais da floresta. Tmabém não era a água enfeada por folhas ou galhos caídos das árvores; a relva crescia viçosa em torno dela, e os rochedos a abrigavam do sol. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede. Debruçou-se para desalterar-se, viu a própria imagem refletida e pensou que fosse algum belo espírito das águas que ali vivesse. Ficou olhando com admiração para os olhos brilhantes, para os cabelos anelados como os de Baco ou de Apolo, o rosto oval, o pescoço de marfim, os lábios entreabertos e o aspecto saudável e animado do conjunto. Apaixonou-se por si mesmo. Baixou os lábios, para dar um beijo e mergulhou os braços na água para abraçar a bela imagem. Esta fugiu com o contato, mas voltou um momento depois, renovando a fascinação. Narciso não pôde mais conter-se. Esqueceu-se de todo da idéia de alimento ou repouso, enquanto se debruçava sobre a fonte, para contemplar a própria imagem.
- Por que me desprezas, belo ser? - perguntou ao suposto espírito.
- Meu rosto não pode causar-te repugnância. As ninfas me amam e tumesmo não parece olhar-me com indiferença. Quando estendo os braços, fazes o mesmo, e sorris quando te sorrio, e respondes com acenos aos meus acenos.
Suas lágrimas cairam na água, turbando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te! Deixa-me, pelo menos, olhar-te, já que não posso tocar-te.
Com estas palavras, e muitas outras semelhantes, atiçava a chama que o consumia, e, assim, pouco a pouco, foi perdendo as cores, o vigor e a beleza que tanto encantara a ninfa Eco. Esta se mantinha perto dele, contudo, e, quando Narciso gritava: "Ai, ai", ela respondia com as mesmas palavras. O jovem, depauperado, morreu. E, quando sua sombra atravessou o Estige, debruçou-se sobre o barco, para avistar-se na água.
As ninfas o choraram, especialmente as ninfas da água. E, quando esmurravam o peito, Eco fazia o mesmo. Prepararam uma pira funerária, e teriam cremado o coprpo, se o tivessem encontrado; em seu lugar, porém, só foi achada uma flor, roxa, rodeada de folhas brancas, que tem o nome e conserva a memória de Narciso.
Milton faz alusão à história de Eco e Narciso, na canção da Dama, do poema "Comus". A Dama, procurando os irmãos na floresta, canta, para atrair-lhes a atenção:
Ó Eco, doce ninfa que, invisível,Vives nas verdes margens do MeandroE no vale coberto de violetas,Onde ao luar o rouxinol te embala,Com seu canto nostálgico e suave,Dois jovens tu não viste, por acaso,Bem semelhantes, Eco, ao teu Narciso?Se, em alguma gruta os escondeste,Dize-me, ó ninfa, onde essa gruta estáE, em recompensa, subirás ao céu.E mais graça darás, ó bela ninfa,À Celeste harmonia em seu conjunto!
Além disso, Milton imitou a história de Narciso na descrição, que põena boca de Eva, acerca de sua impressão, ao ver-se, pela primeira vez, refletida na fonte:
Muitas vezes relembro aquele diaEm que fui despertada a vez primeiraDo meu sono profundo. Sob as folhasE as flores, muitas vezes meditei:Quem era eu? Aonde ia? De onde vinha?Não distante de mim, doce ruídoDe água corrente vinha. De uma grutaSaía a linfa e logo se espalhavaEm líquida planície, tão tranqüilaQue outro céu tranqüilo parecia.Com o espírito incerto caminhei e fuiNa verde margem repousar do lagoE contemplar de perto as claras águasQue eram, aos meus olhos, novo firmamento.Ao debruçar-me sobre o lago, um vultoBem em frente de mim apareceuCurvado para olhar-me. RecueiE a imagem recuou, por sua vez.Deleitada, porém, como que avistavaNovamente eu olhei. Também a imagemDentro das águas para mim olhou,Tão deleitada quanto eu, ao ver-me.Fascinada, prendi na imagem os olhosE, dominada por um vão desejo,Mais tempo ficaria, se uma vozNão se fizesse ouvir, advertindo-me:"És tu mesma que vês, linda ciatura."
Fonte: http://www.lunaeamigos.com.br/
NARCISO
A ninfa Liríope passeava tranqüila junto ao rio Cefiso, em cujas margens ninfa alguma podia passar incólume, quando subitamente o rio a enlaçou, e a ela se uniu. Dessa união indesejável nasceu Narciso. Ao nascer a criança, porém, a mãe rejubilou-se pois era um menino dotado de imensa formosura que certamente seria amado por mortais e imortais. Liríope consultou então o cego adivinho Tirésias para saber o futuro da criança. O sábio respondeu que viveria muitos anos se ele não se conhecesse.
O rapaz foi alvo de inúmeras paixões mas permanecia insensível ao amor. Eco, ninfa das montanhas, que tinha sido privada da fala por Hera e condenada a repetir as últimas sílabas das palavras, apaixonou-se pelo rapaz mas como não podia declarar-lhe seu amor se limitava a seguí-lo. Como Narciso a desprezasse, a ninfa, cheia de tristeza, começou a definhar até que um dia morreu. Nêmesis, deusa da Justiça, foi chamada pelas demais ninfas, que revoltadas clamavam por punição para a frieza do rapaz. A deusa condenou Narciso a viver um amor impossível. E foi para cumprir-se a maldição que certo dia, ao se aproximar da fonte de Tespias para se refrescar, o belo rapaz viu sua imagem refletida nas águas. Seduzido por sua própria beleza, apaixonou-se por si próprio, permaneceu ali até morrer. Quando foram em busca do rapaz encontraram tão somente uma singela flor à beira da fonte: um narciso.
Fonte: www.algosobre.com.br
Portal São Francisco


Biografia de Valter da Rosa Borges

Tenho grande admiração pelo trabalho deste singular escritor: Valter da Rosa Borges, postei textos extraídos do seu site, para que todos os leitores do meu blog, possam também conhecer, apreciar seu trabalho apurado, suscinto e sensato.
Boa leitura!

Valter da Rosa Borges nasceu no bairro histórico de São José, Recife, Pernambuco, em 15 de março de 1934

Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Pernambuco em 1959.

Ingressou no Ministério Público de Pernambuco em 1963 e se aposentou como Procurador de Justiça em 1993.

É livre-pensador, parapsicólogo, filósofo, poeta, escritor, conferencista e autor de livros e artigos, que versam sobre os mais diversos assuntos.

Em 1950, fundou o Grêmio Cultural Joaquim Nabuco, uma instituição lítero-artística, que teve atuação destacada no mundo intelectual do Recife.

Em 1953, iniciou seus estudos e pesquisas da fenomenologia paranormal, e é um dos decanos da Parapsicologia brasileira.

Em 1968, criou, dirigiu e apresentou, na TV Universitária Canal 11, da Universidade Federal de Pernambuco, o programa O Grande Júri, o primeiro programa cultural e científico do Brasil e que teve a duração de quatorze (14) anos, terminando em 1982.

Fundou, em 1973, o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, uma das mais antigas instituições de Parapsicologia no Brasil.

Em 1972, foi considerado, pelo Jornal de Letras, como uma das dez Personalidades da Cultura de Pernambuco.

Em 1977, integrou a Comissão de Direito Civil e Processo Civil, no V Congresso Nacional do Ministério Público, realizado no Recife.

Lecionou Sociologia na Universidade Federal de Pernambuco (1977 a 1980) e foi professor de Direito Civil na Universidade Católica de Pernambuco (1978 a 1990).

Em 1978, fundou a Academia Pernambucana de Ciências, da qual foi Presidente em quatro mandatos. Nesse ano, recebeu o título de Melhor Produtor e Televisão em Pernambuco, do ano de 1977, conferido pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão de Pernambuco.

A partir de 1979, começou a participar, como conferencista oficial, de Congressos de Parapsicologia, no Brasil e no Exterior. E ministrou Cursos de Parapsicologia, na Universidade Federal da Paraíba, na Universidade Católica de Pernambuco e na Universidade Federal de Pernambuco.

Em 18 de janeiro de 1980, recebeu o Título de Acadêmico Emérito da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro.

Em 1990, assumiu a Coordenadoria do Meio Ambiente do Ministério Público de Pernambuco. No ano seguinte, representou o Ministério Público de Pernambuco no I Encontro Nacional do Ministério Público à Eco-92, realizado em Goiânia, Goiás.

Recebeu, em 1995, o Prêmio de poesia “Lyra e César”, concedido pela Academia Pernambucana de Letras, ao seu livro “O Ser, o Agora, o Sempre”.

Em 1996, passou a dirigir o Anuário Brasileiro de Parapsicologia.

Em 7 dezembro de 1996, lhe foi conferido o título de Presidente de Honra do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – IPPP - e o Diploma de Honra ao Mérito pela relevante contribuição a essa instituição e ao progresso da Parapsicologia no Brasil.

Em 1999, fundou a Sociedade Internacional de Transcendentologia.

Em 18 de março de 1998, tornou-se sócio efetivo da Academia de Artes e Letras de Pernambuco .

No dia 13 de janeiro de 1999, recebeu o título de História Viva do Recife, outorgado pelo Museu da Cidade do Recife, da Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes, e entregue pelo Prefeito Roberto Magalhães.

Recebeu o diploma de Mérito Acadêmico, concedido pela Academia Pernambucana de Ciências, no dia 6 de dezembro de 2000.

Foi agraciado com a medalha Marechal Trompowski, conferida pelo Instituto dos Docentes do Magistério Militar, em solenidade no Colégio Militar do Recife, no dia 18 de outubro de 2002.

Em 16 de dezembro de 2003, recebeu o título de Sócio Emérito da Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda.

Realiza palestras, sob os mais diversos temas, em instituições científicas, culturais e universitárias. E é entrevistado sobre temas de parapsicologia nas emissoras de rádio e televisão, assim como em jornais e revistas.

Nas suas atividades de parapsicólogo, investiga fenômenos paranormais, notadamente os de "poltergeist" em Pernambuco.

É membro da União Brasileira de Escritores, seção de Pernambuco, da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, da Parapsychological Association e da Associación Iberoamericana de Parapsicologia.

Entrevista com Fernando Pessoa



Fernando Pessoa (1888-1935). Um dos maiores poetas de Portugal
O crítico literário Harold Bloom considerou-o o mais representativo poeta do século XX ao lado de Pablo Neruda.
Assumiu personalidades fictícias conhecidas como heterônimos, que se fizeram autores de várias de suas obras.
VRB – Fernando Pessoa: por que um poeta?

Fernando Pessoa – Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho.

VRB – A realidade é sempre nova. Viver, é permanente descoberta?

Fernando Pessoa – A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

VRB – Há uma realidade além da realidade física?

Fernando Pessoa – Eu nunca passo para além da realidade imediata.
Para além da realidade imediata não há nada.

VRB – O que é amar?

Fernando Pessoa – Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

VRB – A inocência de não pensar é uma metafísica?

Fernando Pessoa – Há metafísica bastante em não pensar em nada.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...

VRB – O que você pensa sobre o mundo

Fernando Pessoa – Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos)


VRB – Há mistérios na vida ou a vida é o maior de todos os mistérios?

Fernando Pessoa – O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos.
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.

VRB – Tudo o que existe tem um sentido?

Fernando Pessoa – O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Eu vejo ausência de significação em todas as coisas;
Vejo-me e amo-me, porque ser uma coisa é não significar nada.
O ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas.

VRB – A riqueza é um conceito que varia de pessoa a pessoa.

Fernando Pessoa – Nossa única riqueza é ver.

VRB – O egoísmo é natural em todos os seres vivos. De que modo você é egoísta?

Fernando Pessoa – (Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com o florir e ir correndo.
- essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso.)

VRB – Há metafísicos que afirmam que a consciência não é privativa dos seres humanos e está, em maior ou menor grau, em tudo o que existe.

Fernando Pessoa – Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...

VRB – As pessoas gostam de recordar o que viveram, como uma forma psicológica de reviver o passado.

Fernando Pessoa – A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem
não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

VRB – É muito comum se dizer: somos o que somos interiormente. O que você pensa sobre isso?

Fernando Pessoa – Antes de sermos interior somos exterior.
Por isso, somos exterior essencialmente.

VRB – A liberdade tem sido uma das grandes aspirações do ser humano. Somos livres ou apenas produtos de nossos condicionamentos culturais?

Fernando Pessoa – Só na ilusão da liberdade
A liberdade existe.

VRB – Tudo o que fomos, agora é sonho. Então é o nosso presente nada mais do que uma máquina de sonhos.

Fernando Pessoa – Quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.

VRB – Os sentimentos bons ou maus nos acorrentam. Há as algemas do amor. Há as algemas do ódio. Como nos libertarmos dos afetos que nos aprisionam?

Fernando Pessoa – Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.

VRB – Somos só a nossa autenticidade, ou os outros nos acrescenta?

Fernando Pessoa – Ninguém te dá quem és.

VRB – É o amor que temos a alguém uma mera projeção de nós mesmos?

Fernando Pessoa – Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.

VRB – Só existe ação verdadeira quando nada somos senão ela.

Fernando Pessoa – Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

VRB – A quem é feliz, o que acresce a esperança?

Fernando Pessoa – O que nada espera
Tudo que vem é grato.

VRB – Qual o nosso erro maior?

Fernando Pessoa – O erro de querer ser igual a alguém.

VRB – Tudo o que temos é hoje.

Fernando Pessoa – Colhe o dia, porque és ele.

VRB – O que somos nos é pouco. Queremos ser mais de um.

Fernando Pessoa – Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.

VRB – Tudo o que não podemos, virá deuses.

Fernando Pessoa – Os deuses
Dão vida e não verdade, nem talvez
Saibam qual a verdade.

VRB – Para muitas pessoas o desconhecido apavora.

Fernando Pessoa – Mas o que é conhecido? O que tu conheces
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

VRB – Ansiamos pelo infinito.

Fernando Pessoa – Amanhã é infinito.

VRB – Escrevemos, ou algo escreve por nós?

Fernando Pessoa – Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

VRB – Há volta para o que foi?

Fernando Pessoa – Nunca voltarei porque nunca se volta.

VRB – Há ocasiões em que a consciência dói. Então queremos a anestesia de um breve repouso no nada.

Fernando Pessoa – Trouxe comigo o espinho essencial de ser consciente,
A vaga náusea, a doença incerta, de me sentir.

VRB – Toda conclusão é uma porta que se fecha.

Fernando Pessoa – Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

VRB – As coisas têm algum sentido?

Fernando Pessoa – O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Eu vejo ausência de significação em todas as coisas;
Vejo-me e amo-me, porque ser uma coisa é não significar nada.

VRB – A nossa maior liberdade é não sermos indispensáveis a ninguém.

Fernando Pessoa – Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
A realidade não precisa de mim.

VRB – Viver só por viver é viver e nada mais.
Fernando Pessoa - Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
VRB – Tudo o que passou, é lição? Tudo que passou, vale a pena?

Fernando Pessoa – Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

VRB – Quem vive à superfície de si, o que de si ignora?

Fernando Pessoa - Quem sou é quem me ignoro e vive Através dessa névoa que sou eu Todas as vidas que eu outrora tive, Numa só vida.

VRB – Por que não somos um, somos um paradoxo.

Fernando Pessoa – Às vezes sou o Deus que trago em mim E então eu sou o Deus, o crente e a prece E a imagem de marfim Em que esse Deus se esquece. Às vezes não sou mais que um ateu Desse Deus meu que eu sou quando me exalto. Olho em mim todo um céu E é um mero oco céu alto.

VRB – O que fazer da dor quando inevitável?

Fernando Pessoa – Deixa a dor nas aras como ex-voto aos deuses.

VRB – O que de excelência os deuses superam o ser humano?

Fernando Pessoa – Os deuses são deuses Porque não se pensam.
Fonte: Valter da Rosa Borges

Entrevista com Charles Chaplin



Charles Chaplin (1889-1977). Foi ator, diretor, roteirista e músico inglês. Atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, tornando-se um ícone do cinema mudo.
O Grande Ditador (1940) foi o seu primeiro filme falado e também uma crítica a Adolf Hitler e ao fascismo.
VRB – Chaplin, qual o seu conceito de arte?

Chaplin – A Arte é um sentimento difícil de ser definido. O seu tema, por mais importante e grandioso que seja, pode sempre ser simplificado ao ponto de ser compreensível por todas as pessoas. É aí então que a Arte atinge a sua forma mais sublime.
A arte é uma emoção adicional justaposta a uma técnica apurada.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nós nos desviamos dele. A cobiça envenenou a alma dos homens.

VRB – A beleza é um sentimento pessoal. É o objeto da arte, embora varie segundo a concepção da cada escola. Para uns, a beleza é a sua razão de ser. Uma forma de encantamento que dá sentido a existência.

Chaplin – A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la - mas, quem consegue, descobre tudo.
A beleza existe em tudo - tanto no bem quanto no mal. Mas somente os artistas e poetas sabem encontrá-la.
A beleza é, no meu entender, uma onipresença da morte e do encanto, uma risonha melancolia que discernimos em todas as coisas da Natureza e da existência, essa comunhão mística que sente o poeta... algo assim como um raio de sol dourado e poeira que esvoaça, ou como uma rosa caída na sarjeta.
Amo a tragédia porque ela é bela. A única comédia que vale a pena é aquela que contém a beleza.

VRB – O que você considera mais importante num filme? O seu temário? A sua técnica? A fidelidade ao real?

Chaplin – Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação.
Depois de tantos anos de trabalho e experiência, descobri que as idéias de meus filmes surgem em conseqüência do intenso desejo de concebê-las. Provocada por esse desejo, a mente se torna uma espécie de torre de observação à espreita de incidentes que possam excitar imaginação: música, crepúsculos, qualquer coisa, enfim, pode ser a imagem capaz de inspirar uma idéia. Quando descobrimos um assunto capaz de estimulá-la, elaboramos os pormenores e desenvolvemos tal idéia, ou, se isso não é possível, descartamo-nos dela e procuramos outra. Acumulação e eliminação representam o processo pelo qual acabamos chegando ao que desejamos.

VRB – Qual dos seus filmes você julga o melhor?

Chaplin – Creio que Monsieur Verdoux é o melhor e o mais brilhante dos filmes que já fiz.

VRB – Carlitos foi uma personagem que ganhou uma dimensão humana internacional, tal como Édipo, Hamlet e Otelo, por exemplo. O que o inspirou a criá-la?

Chaplin – Muita gente me pergunta onde foi que me inspirei para criar a minha personagem. Na verdade, Carlitos aparece como sendo a síntese de muitos ingleses que eu via em Londres quando era jovem: tipos de pequena estatura, do bigodinhos pretos, roupas bem justas, e sempre portando uma bengala de bambu. A idéia da bengalinha foi a mais feliz de todas, pois foi ela que caracterizou a personagem e a tornou conhecida mais rapidamente. Desenvolvi o seu uso ao ponto de torná-la cômica por si só - por exemplo, quando ela se enroscava no pé de alguém ou puxava uma pessoa pelo ombro. Muitas dessas cenas acabavam por se tornar, inesperadamente, muito engraçadas.

VRB – O sucesso é a realização de uma meta e, assim, varia de pessoa a pessoa. No seu caso, o que concorreu para o seu sucesso?

Chaplin – Conhecer o homem - esta é a base de todo o sucesso.
Estudei o homem, porque se assim não o fizesse, não conseguiria realizar nada em meu ofício.

VRB – O cômico é sempre difícil, porque facilmente satura. O trágico tem uma duração ilimitada, porque parece um arquétipo da natureza humana.

Chaplin - Na criação de comédia, por mais paradoxal que isso pareça, o senso do ridículo é estimulado pela tragédia; pois o ridículo, creio eu, contém um desafio: devemos rir do nosso desamparo na luta contra as forças da Natureza... para não enlouquecer.

VRB – Qual a técnica para evitar a obsolescência da comicidade?

Chaplin – Uma das coisas que sempre procuro evitar é não exagerar ou insistir demasiadamente num ponto determinado. Quando se exagera na comicidade, a cena deixa de produzir risos e nada acrescenta ao filme.

VRB – Então, ser comedido é uma das virtudes do artista? Parece-me que não. O artista é quase sempre um exagerado, não raro um excêntrico.

Chaplin – Ser comedido é algo muito importante, não somente para um ator, mas para qualquer pessoa. Moderar o temperamento, os apetites, os maus hábitos e todas outras coisas é uma necessidade.
Toda vez que assisto a um dos meus filmes, quando ele é apresentado pela primeira vez ao público, eu presto mais atenção na reação das pessoas do que na própria película - nas situações que causam o riso e nas que não causam.
De certa forma, sempre que vou ver um de meus próprios filmes, eu me comporto como um comerciante qualquer que fica observando quais as mercadorias que seus clientes gostam de comprar.

VRB – Ademais, o riso é um benefício para a saúde física e mental.

Chaplin - O humorismo nos alivia das vicissitudes da vida, ativando o nosso senso de proporção e nos revelando que a seriedade exagerada tende ao absurdo.

VRB – O humorismo foi a marca de sua personalidade?

Chaplin - No fundo, sou um pierrô sentimental.

VRB – O que o tornou um mestre da pantomima? Inspirou-se em alguém como modelo?

Chaplin - Sem minha mãe, acho que jamais teria me saído bem na pantomima. Ela possuía a mímica mais notável que já vi. Às vezes, ficava durante horas à janela, olhando para a rua e reproduzindo com as mãos, os olhos e a expressão de sua fisionomia tudo o que se passava lá embaixo. E foi observando-a assim que eu aprendi não somente a traduzir as emoções com as minhas mãos e meu rosto, mas sobretudo a estudar o homem.

VRB – Que influência teve a sua infância em sua vida?

Chaplin – As lembranças dos meus primeiros tempos ainda estão muito vivas. É difícil para mim falar dessa época. No entanto, penso muito nela.
Às vezes fico pensando se eu existiria como sou se tivesse nascido filho de um rico nobre; mas como é que se pode responder a uma coisa dessas? Nossas experiências iniciais ficam com a gente e moldam o nosso futu­ro.
Uma pessoa pode ter uma infância triste e mesmo assim chegar a ser muito feliz na maturidade. Da mesma forma, pode nascer num berço de ouro e sentir-se enjaulada pelo resto da vida.

VRB – Todas as pessoas (ou quase todas) têm os seus fantasmas, que, geralmente, as perseguem por toda a vida. Quais são os seus fantasma?

Chaplin - Durante a infância, a fome e o medo do amanhã eram duas constantes em minha existência. Por mais rico que possa vir a ser, jamais conseguirei me libertar desse medo. Sinto-me como um homem perseguido por um fantasma - o fantasma da pobreza.

VRB – É arte de representar um talento inato ou aprendido? Mesmo sendo um talento, deve ser aprimorado?

Chaplin – Não creio que a arte de representar possa ser ensinada. Já vi pessoas inteligentes fracassarem e pessoas estúpidas se saírem muito bem. O que a representação requer não é senão sentimento.
Jamais estudei arte de representar, mas, quando menino, vivi numa era de grandes atores e adquiri, por extensão, muito dos seus conhecimentos e experiências. Embora eu tivesse dons, ficava surpreendido, nos ensaios, ao descobrir quanto eu tinha que aprender a respeito da técnica de representar. Mesmo os principiantes com talento devem aprender a técnica, não importa quão bem dotados sejam, pois só assim as suas habilidades se tornarão eficientes.
Quando comecei a fazer filmes cômicos fazia só pelo dinheiro - a arte apareceu por acaso. Se isso decepcionar alguém, nada posso fazer. É a verdade.

VRB – É óbvio que o dinheiro resolve muitos problemas, mas não todos. Há pessoas cujo grande problema é ganhar cada vez mais dinheiro. Então, ganhar dinheiro e mais dinheiro passa a ser uma obsessão, um vício.

Chaplin – Mais dinheiro significa mais problemas. Quando era criança pobre passei por muitos infortúnios... o dinheiro me trouxe outros.

VRB – O que há de comum entre você e Carlitos?

Chaplin - Na_verdade a personagem Carlitos - essa figura que não sou eu, mas que se assemelha comigo como a um irmão - é para mim uma terrível responsabilidade.

VRB – A criação artística e literária é quase sempre uma catarse.Você representou magistralmente a personalidade de Hitler no seu filme O Grande Ditador. O que significou essa representação para você? Até que ponto se envolveu e se identificou com a personalidade de um ditador?

Chaplin – Todas as minhas aspirações secretas, contidas, são satisfeitas quando escrevo e realizo um filme como O Grande Ditador. Entre o ditador e eu, não consigo distinguir qual é o verdadeiro Chaplin.

VRB – Que outras personalidades você gostaria de representar? Seria fiel a elas ou as recriaria?

Chaplin – As duas personalidades que eu mais desejaria recriar em um filme seriam Napoleão e Jesus Cristo... Não representaria Napoleão como um general poderoso, mas como um ser fraco, taciturno, quase melancólico e sempre importunado pelos membros de sua família. Quanto ao Cristo, gostaria também de modificá-lo no espírito das massas. Acho que a personagem mais forte, mais dinâmica e mais impor­tante que já existiu, acabou por ser terrivelmente deformada pela tradição. Mostrá-lo-ia, então, acolhido em delírio por homens, mulheres, e crianças. As pessoas iriam ao seu encontro para sentir seu magnetismo. Não mais seria um homem piedoso, triste e distanciado; um solitário que acabou por ser o maior incompreendido de todos os tempos.

VRB – A opinião pública influiu em sua carreira cinematográfica?

Chaplin – Em toda a minha carreira cinematográfica sempre me guiei, em grande parte, pela opinião pública. Essa opinião chegava a mim através de cartas que recebia, em conversas pessoais, mas sobretudo por intermédio da imprensa. Do mesmo modo, também me convenci de que a contribuição que estou prestando com a realização de meus filmes é bem maior do que aquela que poderia oferecer se estivesse nas trincheiras servindo à causa da guerra.

VRB – Há pessoas que pensam - inclusive eu - que o patriotismo é um sentimento até certo ponto mórbido, porque resulta em fanatismo beligerante e preconceito contra outros povos.

Chaplin - De fato, não sou um patriota - e não somente por motivos morais ou intelectuais, mas também porque é sentimento que não possuo. Como tolerar patriotismo quando em seu nome foram assassinados seis milhões de judeus? Pode-se dizer que isso aconteceu na Alemanha; não obstante, esses impulsos homicidas estão latentes em todas as nações.
Se matamos uma só pessoa, somos assassinos. Se matamos milhões de homens, celebram-nos como heróis. Felicitam-se os que inventam bombas para matar mulheres e crianças.

VRB – Há algum político oculto em Charles Chaplin?

Chaplinn – Não sou político; sou prin­cipalmente um individualista. Creio na liberdade; nisso se resume a minha política... Sou pelos homens; essa é a minha natureza.

VRB – Entendo a política como a mais bem sucedida arte de mentir.

Chaplin – Não faço de nenhum polí­tico do passado ou do pre­sente um herói digno de ser adorado.

VRB – Por isso, é necessário estarmos atentos ao que se passa no mundo da política para não sermos envolvidos e manipulados pelas tramas e sortilégios dos seus participantes.

Chaplin – Ignorar a situação política do mundo em que vivemos seria como esconder a ca­beça na areia. É preciso ser muito idiota para tentar ignorá-la, quando todos nós fazemos parte dela.

VRB – Todos nós temos um ideário de valores. Qual é o seu?

Chaplin – Sou um defensor da liber­dade, da justiça e da verdade. Certamente não pretendo fa­zer nenhuma revolução - não é a minha vocação. Sou a favor do povo.

VRB – Como Chaplin se percebe no mundo? Sente que faz parte dele ou se sente um estrangeiro? Pensa que o conhece ou se sente confuso no seu relacionamento com ele?

Chaplin – Faço parte do mundo - e no entanto ele me torna per­plexo.
Durante mais de trinta anos, vivi num autêntico aquário. Toda a minha vida era submetida à publicidade e a toda espécie de pressões. Mas, quaisquer que sejam as minhas opiniões pessoais, insisto na sua integridade ina­balável. Mantenho-me nelas e assim farei até que encontre razões válidas para as aban­donar.

VRB – E em relação ao mundo artístico?

Chaplin - Receio pelo nosso futuro. Nosso mundo já não é o mundo dos grandes artistas. É um mundo espumante, agi­tado, amargo, um mundo in­vadido, inundado pela políti­ca...

VRB – As religiões sempre exaltaram a pobreza e satanizaram a riqueza. Por que a pobreza é uma virtude? O pobre gosta de ser pobre ou, na verdade, ele deseja sair da pobreza, embora nem todos anseiem pela riqueza?

Chaplin – Nunca achei a pobreza atrativa nem edificante. O que ela me ensinou foi só uma distorção de valores. Fortuna e fama, por outra parte, ensinaram-me a ver o mundo tal como é, a desco­brir que homens das mais elevadas posições se mos­tram, quando observados de perto, com tantas deficiên­cias como o resto de nós. Fortuna e fama também me ensinaram a ter desdém pelos brasões e pelas comendas, que não passam de pretensiosidades. Ensinaram-me a conhecer que o mérito e a in­teligência dos homens não podem ser julgados pelos requintes de pronúncia aprendidos em universidades -mito que tem exercido in­fluência paralisante no espí­rito das classes médias ingle­sas. Ensinaram-me a saber que inteligência não é neces­sariamente produto de edu­cação ou conhecimento dos clássicos.

VRB – A existência tem algum sentido? Ou somos nós que damos sentido à existência?

Chaplin – Não posso crer que nossa existência não tenha sentido, que seja mero acidente, como nos querem convencer alguns cientistas. A vida e a morte são determinadas de­mais, por demais implacáveis, para que sejam pura­mente acidentais.

VRB – A emoção é um dos alicerces da pessoa humana. A razão, por si só, não constrói o entendimento do mundo. Como o cinema pode contribuir para a compreensão do ser humano?

Chaplin – Creio no riso e nas lágri­mas como antídotos contra o ódio e o terror. Os bons fil­mes constituem uma lingua­gem internacional, respon­dem à necessidade que os homens têm de alegria, de piedade e de compreensão. São um meio de dissipar a onda de angústia e de medo que invade o mundo de hoje... Se pudéssemos pelo me­nos trocar entre as nações, em grande quantidade, os filmes que não constituem uma propaganda agressiva, mas que falam a linguagem simples dos homens e das mulheres simples... isso po­deria contribuir para salvar o mundo do desastre.

VRB – As religiões dão muita ênfase ao sofrimento e quase nenhuma importância à alegria.

Chaplin – Estou sempre alegre - essa é a minha maneira de re­solver os problemas da vida. Tenho a impressão de que os homens estão perdendo o dom do riso.

VRB – Há algum país que você especialmente admira?

Chaplin – Para mim, a Itália repre­senta o berço da cultura, da arte e do progresso. Mas sua primeira qualidade é a bele­za.

VRB – Para o místico, o silêncio é o caminho da compreensão, da autodescoberta, da libertação dos condicionamentos. É difícil encontrar o silêncio no mundo cada vez mais ruidoso. Parece que o barulho exterior protege as pessoas contra o silêncio que as intimida.

Chaplin – O silêncio - algo que não pode ser comprado - quantos de nós saberíamos defrontá-lo? Os ricos compram o barulho. No entanto, nosso espírito se realiza quando estamos mergulhados no silêncio natural - esse silêncio que jamais recusa aqueles que o procuram..
O som aniquila a grande beleza do silêncio.

VRB – Caso você tenha fé, que importância tem ela em sua vida?

Chaplin – À medida que vou envelhecendo, mais me preocupa a questão da fé. Ela está em nossa vida bem mais do que supomos e inspira as nossas ações bem mais do que imaginamos. Creio que a fé é precursora de todas as nossas idéias. Sem fé não teríamos criado hipóteses, teorias, ciência ou matemática. Penso que a fé é uma extensão do espírito. É a chave que abre a porta do impossível. Negar a fé é refutar a si mesmo e ao espírito que gera todas as nossas forças criadoras.
Minha fé é no desconhecido, em tudo que não podemos compreender por meio da razão; creio que o que está acima do nosso entendimento é apenas um fato em outras dimensões e que no reino do desconhecido há uma infinita reserva de poder.

VRB – Qual a sua opinião sobre os literatos, os artistas e os cientistas?

Chaplin – Os literatos são encantadores, porém não muito dadivosos; transmitem raramente aos outros o que sabem; na grande maioria, escondem-no sob a capa de seus livros.
Os cientistas podem ser ótimos companheiros, mas sua mera presença num salão inibe a inteligência dos demais. Os pintores aborrecem, porque, na maior parte, gostariam de nos convencer que são mais filósofos do que pintores. Sem dúvida, os poetas constituem uma classe superior e como indivíduos são agradáveis, tolerantes e de excelente convívio. Creio, entretanto, que os músicos em geral têm mais senso de cooperação do que qualquer outra espécie de gente.

VRB – Há pessoas que só se sentem bem na solidão. É nela que se reconstroem e aprendem a conviver consigo mesmas. Por isso, se afastam do tumulto da multidão, embora não vivam como anacoretas.

Chaplin – A solidão é repelente. Tem uma aura de tristeza, uma inadequação para atrair ou interessar, a tal ponto que nos sentimos ligeiramente envergonhados quando ela nos rodeia. Mas, num grau maior ou menor, atinge a todos.

VRB – É o ser humano o resultado de sua estrutura genética ou dos condicionamentos sociais ou, ainda, de uma combinação entre esses dois elementos?

Chaplin – A Humanidade não se divide em heróis e tiranos. Suas paixões, boas e más, foram-lhes dadas pela sociedade, não pela Natureza.

VRB – Qual a importância da sexualidade na vida do ser humano?

Chaplin – Procriar é a principal ocupação da natureza e todo homem, seja moço ou velho, quando vem a conhecer uma mulher indaga a si mesmo que possibilidades haverá de relação sexual entre os dois. E era sempre o que acontecia comigo.

VRB – Todas as suas criações o emocionam? Acha que, por isso, elas contagiam o público?

Chaplin – Se o autor não se emociona com a sua própria criação, dificilmente pode esperar que outros o façam. Com franqueza, divirto-me com as minhas comédias mais do que o público.

VRB – Em todas as épocas tudo está em transição, embora o ritmo das mudanças possa ser rápido ou lento. Na nossa época, no entanto, as mudanças estão intensamente aceleradas e, por isso, deixando as pessoas comuns, principalmente, as mais velhas, perdidas e confusas.

Chaplin – Creio que é oportuno transmitir a impressão que tenho sobre a situação do mundo. A complexidade crescente da vida moderna e o ritmo alucinante do século XX encurralaram o homem em gigantescas instituições que o ameaçam por todas as formas, política, científica e economicamente. Começamos a sofrer como que um condicionamento da alma, submetidos a sanções e permissões.
Essa matriz a que temos de nos amoldar deve-se à carência de uma concepção cultural. Entramos às cegas numa existência feia e congestionada. Perdemos a noção do belo. O sentido do nosso viver está sendo embotado pela preocupação do lucro, pelo poder e pelo monopólio. E temos consentido que tais forças nos envolvam, sem nos dar conta das suas conseqüências nefastas.
Sem filosofia orientadora e sem o senso de responsabilidade, a ciência entregou a políticos e militares armas tão destruidoras que eles têm nas mãos o destino de todos os viventes sobre a Terra.

VRB – O acelerado processo da ciência e da tecnologia ensejou um preocupante descompasso com os padrões éticos e morais da humanidade, abalados, por sua vez, pelo fenômeno da globalização e o inevitável confronto entre as culturas.

Chaplin – O homem é um animal com instintos elementares de sobrevivência. Por conseguinte, desenvolveu primeiramente a sua engenhosidade e só depois a sua alma. Assim, o progresso da ciência tem sido muito mais rápido do que o da conduta moral do homem.

VRB – Qual seria, então, a solução para esse impasse? Os povos, na quase totalidade, desconhecem os verdadeiros desafios do nosso mundo tecnológico, assim como a gravidade e a dimensão de seus problemas. As pessoas vivem deslumbradas em um mundo de tantas maravilhas e os dirigentes das nações poderosas estão embevecidos pelo poder e as possibilidades de dominação sobre os outros povos, principalmente aqueles que lhes são concorrentes.

Chaplin – Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Disse Carlyle que a salvação do mundo será obtida quando o povo der para pensar. Mas, a fim de que tal aconteça, é preciso que o povo se veja diante de grave desafio.
Ora, dividindo o átomo, o homem ficou encurralado e na obrigação de pensar. Tem de escolher entre a própria destruição ou uma conduta ajuizada. O avanço da ciência força-o a fazer a opção. Creio que o altruísmo acabará por vencer e há de imperar o amor pela humanidade.

VRB – Então...

Chaplin – Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à juventude e segurança à velhi­ce.

VRB – Embora eu seja um cético em relação a isso, espero que essa sua esperança se concretize.
Mas, finalizando a entrevista, como você se sente na condição de uma pessoa famosa em um mundo cada vez mais competitivo?

Chaplin – Reconheço que o tempo e as circunstâncias me têm favorecido. O mundo cumulou-me de afeições, inspirei amor e também ódio. Deu-me a vida o que havia de melhor e um pouco do pior. Quaisquer que tenham sido as minhas vicissitudes, creio que a ventura e a desventura são filhas do acaso, pairando como nuvens sobre o nosso destino. Com essa compreensão, nunca me abalam demais as coisas ruins que me acontecem, ou agradavelmente surpreendido pelo que vem de bom. Não sigo um roteiro de existência, nenhuma filosofia... Sábios ou tolos, temos todos que batalhar com a vida. Oscilo em meio a contradições: exasperam-me às vezes fatos mínimos, e catástrofes poderão deixar-me indiferente. Contudo, a minha vida é hoje mais apaixonante do que nunca.
Fonte: Valter da Rosa Borges

Entrevista com Gandhi




Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948), mais conhecido como "Mahatma" (grande alma) Gandhi, foi o líder espiritual e político de mais de 250 milhões de hindus. Pela prédica e prática do seu pacifismo conquistou a admiração de seu povo e do mundo inteiro, culminando na libertação da Índia do governo britânico.
Terminou a sua vida assassinado por um hindu enfurecido em 30 de setembro de 1948, durante uma reunião de oração.
Sobre Gandhi, disse Albert Einstein:
"Futuras gerações dificilmente acreditarão que tenha passado sobre a face da terra, em carne e osso, um homem como Gandhi."




Entrevista com Mahatman Gandhi

VRB – O Ocidente percebe o sistema de castas, ainda existente na Índia, como equivocado, estático e retrógrado, impossibilitando a dinâmica social e prefixando a posição dos indivíduos na sociedade. Você admite que este sistema é ainda válido no mundo moderno?

Gandhi – O sistema de castas é, a meu ver, inerente à natureza humana, e o Hinduísmo fez dele apenas uma ciência.
Considero o sistema de quatro castas como uma sã repartição do trabalho antes do nascimento.
Poder passar de uma casta a outra no curso de uma encarnação dará como resultado uma grande fraude.
A concepção atual das castas é uma percepção do original.

VRB – O que é mais importante, no seu modo de ver: o amor ou a verdade?

Gandhi – O amor pode derivar da Verdade ou ser ligado à Verdade. A Verdade e o Amor são um só e mesma coisa. Tenho, entretanto, uma certa fraqueza pela Verdade. Numa última análise, não se pode ter senão uma só realidade. A Verdade, a mais alta, não precisa ser fundamentada. A Verdade é o fim, o Amor o meio para chegar até lá. Sabemos o que é o Amor ou a não--violência, tanto que temos dificuldade em observar a lei. Mas quanto à Verdade, não conhecemos mais que uma parcela. É difícil ao homem chegar a um conhecimento perfeito da Verdade, assim como lhe é difícil a prática perfeita da não-violência.

VRB – Pode o ser humano conhecer a verdade?

Gandhi – Não é dado ao homem conhecer a Verdade total; o seu dever está em viver de acordo com a Verdade na medida que ele a percebeu; e, em procedendo assim, deve recorrer aos meios mais puros, isto é, à não-violência.

VRB – Cada religião se arroga de possuir a verdade. E, por isso, litigam entre si. Qual delas é detentora da verdade ou nenhuma delas a tem?

Gandhi – As verdades diferentes na aparência são como inúmeras folhas que parecem diferentes e estão na mesma árvore.
A Verdade habita no coração de todo homem, e é ali que devemos procurá-la e viver de acordo com ela, na medida da nossa compreensão. Mas ninguém tem o direito de obrigar outros a viverem segundo a verdade assim como ele mesmo a enxerga.

VRB – O que caracteriza uma pessoa que dedica a sua vida à verdade?

Gandhi – Aquele que consagra toda a atividade à Verdade, que exige um desinteresse absoluto, não tem tempo disponível para a ocupação egoísta de engendrar filhos e dirigir uma casa.
Se um homem dá o seu amor a uma mulher ou a mulher a um homem, que lhes resta dar ao mundo?

VRB – Qual seria, então, a situação de uma pessoa que busca a verdade, embora seja casada? Seria isso um impeditivo para sua busca?

Gandhi – Qual é, então, a situação das pessoas já casadas? Nunca poderão realizar a Verdade? Não poderão jamais ofertar-se no altar da humanidade? Existe para esses uma solução. Podem conduzir-se como se não fossem casados. Aqueles que já sentiram a alegria deste estado podem confirmar minhas palavras. De meu conhecimento muitos são os que tentaram esta experiência com sucesso. Se os esposos podem considerar-se como irmão e irmã, estarão disponíveis para servir à humanidade. A idéia que todas as mulheres da terra são irmãs, mães, filhas, enobrece imediatamente um homem e corta seus grilhões. O marido e a esposa não perdem nada com isso, não fazem senão ampliar o melhor de si, para dar aos que os rodeiam, a eles mesmos e a sua família. Seu amor se liberta de toda a impureza do desejo e se torna mais forte. Com o desaparecimento dessa impureza eles poderão servir-se melhor mutuamente, e as querelas tornam-se mais raras, pois o amor, sendo egoísta e estreito, sempre dá grandes oportunidades para as disputas.
Se pudermos reconhecer o valor das considerações acima, a questão do proveito físico que se obtém na castidade não tem senão importância secundária. Como é cego aquele que gasta, deliberadamente, sua energia nos prazeres sensuais! Ê um grave abuso dissipar na procura de prazeres físicos aquilo que foi dado para que o homem e a mulher pudessem desenvolver plenamente seus poderes corporais e mentais. Tal abuso é a causa profunda da maior parte dos males.

VRB – Quem busca a verdade deve optar pelo celibato voluntário? Há algo que facilite a vida do celibatário?

Gandhi – Constatei, por experiência própria, que o celibato torna-se mais fácil quando conseguimos dominar nosso paladar.

VRB – Além disso, o domínio do paladar exerce alguma influência em nossa saúde?

Gandhi – Como conseqüência de um amor mal compreendido, os pais dão a seus filhos uma alimentação variada, estragando sua saúde e criando neles gostos artificiais. Quando as crianças se tornam adultas, seus corpos já estão doentes e o paladar pervertido. As conseqüências nefastas desta fraqueza durante os primeiros anos nos atormentam a cada passo; gastamos muito dinheiro e somos presa fácil da medicina.
A maior parte de nós, ao invés de dominar os órgãos dos sentidos, torna-se seu escravo. Um médico de longa experiência dizia, um dia, que jamais vira um homem são. O corpo é prejudicado cada vez que se come muito, e tal prejuízo só pode ser reparado — em parte — pelo jovem.
O ideal seria que o sol fosse nosso único cozinheiro.

VRB – Há pessoas que adotam a alimentação vegetariana principalmente por motivo espiritual. Que influência tem esse tipo de dieta em relação à saúde orgânica e/ou psíquica?

Gandhi – A experiência mostra que o alimento de origem animal não convém àqueles que querem dominar suas paixões. Mas será errôneo atribuir um grande papel à alimentação na formação do caráter ou no domínio da carne. O regime alimentar é um fator importante que não podemos negligenciar, mas resumir toda a religião em termos de alimentação, como se costuma fazer na Índia, é tão falso quanto deixar-se levar livremente pelo seu apetite.

VRB – Qual a importância da vida sexual no relacionamento entre o ser humano e Deus? Há uma modalidade do Tantra que vê na atividade sexual um caminho para esse relacionamento.

Gandhi – Realizar Deus é impossível sem uma renúncia absoluta do desejo sexual.
As verdadeiras leis da santidade exigem que o homem que perde a mulher — assim como a mulher que perde o homem — não se casem nunca mais.
É melhor gozar através do corpo que do pensamento. É bom procurar rejeitar os desejos sexuais desde que aparecem no espírito, experimentar dominá-los; mas se, à falta de gozos físicos, o espírito voltar-se para pensamentos de gozos físicos, será legítimo satisfazer os apetites do corpo. Não tenho dúvida sobre isto.

VRB – Há um conflito milenar entre as religiões, porque cada uma se acha dona exclusiva da verdade. Muitas guerras resultaram da intolerância religiosa. É possível que, um dia, as religiões se respeitam reciprocamente ou, ao menos, tolerem as suas diferenças?

Gandhi – Não gosto do termo tolerância, mas não en­contro outro melhor. A tolerância pode pressupor, gratuitamente, que a fé da pessoa é inferior à nossa, enquanto que o ahimsâ nos ensina a ter, com a fé do próximo, o mesmo respeito que temos com a nossa — na qual reconhecemos também imperfeições. Tal admissão seria fácil àquele que procura a Verdade, àquele que obedece à lei do Amor. Se chegássemos à plena visão da Verdade não seríamos mais procuradores, mas estaríamos diante de Deus, pois a Verdade é Deus. Mas como estamos ainda procurando, perseguimos nosso ideal conscientes de nossa imperfeição. Ora, se somos imperfeitos, a religião, tal como a concebemos, também é imperfeita. Não realizamos a religião na sua perfeição, assim como não realizamos Deus. Pois a religião tal como a concebemos é imperfeita, é sempre susceptível de evolução e reinterpretação. O progresso para a Verdade, para Deus, não é possível senão em razão desta evolução. E se todas as concepções religiosas que representam os homens são imperfeitas, não podemos levantar problemas de inferioridade ou superioridade de uma com rela­ção a outra. Todas as fés constituem revelações da Verdade, mas todas são imperfeitas e falíveis. O respeito que experimentamos por outras fés não deve impedir-nos de ver os defeitos. Devemos sempre estar conscientes dos defeitos de nossa própria fé e, entretanto, não abandoná-la por isso, mas tentar triunfar sobre os defeitos. Se considerarmos sem parcialidade todas as outras religiões, não hesitaremos em misturá-las a nossa, nas suas caracte­rísticas desejáveis e mais nos estimaremos por ter cumprido um dever.
Aí a questão se coloca: porque tantas fés diferentes? A Alma é uma, mas os corpos que ela anima são numerosos. Não podemos reduzir o número dos corpos e entretanto reconhecemos a unidade da Alma. É o mesmo que uma árvore que só tem um tronco mas muitos ramos e folhas, assim também há uma só Religião verdadeira e perfeita, mas ela se torna múltipla na passagem do humano. A religião única está além do domínio da linguagem. Os homens imperfeitos não podem exprimi-la senão com a linguagem que dispõem, e suas pala­vras são interpretadas por outros homens igualmente imperfeitos. Qual a interpretação que devemos aceitar como verdadeira? Cada razão tem seu próprio ponto de vista, mas não é impossível que todo mundo esteja errado. Daí a necessidade da tolerância, que não é indiferença com sua própria fé, mas um amor mais puro e mais inteligente para com essa fé. A tolerância nos dá o poder da penetração espiritual que é tão afastado do fanatismo quanto o pólo sul do pólo norte. O verdadeiro conhecimento da religião faz cair as barreiras entre as fés. Cultivando em nós mesmo a tolerância para outras concepções, adquiriremos da nossa uma compreensão verdadeira.
Na realidade há tantas religiões quanto os indivíduos.

VRB – Podemos viver sem religião?

Gandhi – A vida sem religião é uma vida sem princípio, e uma vida sem princípio é como um barco sem direção.

VRB – Qual é mais importante: a razão ou a fé?

Gandhi – A fé transcende a razão; o único conselho que posso dar é o de não tentar o impossível. Não posso explicar a existência do mal com nenhum argumento racional. Tentar isto seria igualar-se a Deus.

VRB – Qual a sua atitude em relação à Divindade?

Gandhi – Anseio por ver Deus face a face. O Deus que eu conheço se chama Verdade. Para mim, o único caminho certo para conhecer a Deus é a não-violência (ahimsa) o amor.
Eu não vi Deus, nem O conheço. Fiz da fé que o mundo tem em Deus a minha fé; e, sendo a minha fé inextinguível, faço da minha fé a minha experiência pessoal.
Deus é o universo.

VRB – Dizem os espiritualistas que a oração é uma forma de relação com Deus. Para isso, recorrem à orações padronizadas, mantras e preces coletivas.

Gandhi – A oração não necessita de palavras.
A oração é a chave da manhã e o ferrolho da noite.
É melhor colocar o coração na oração e nada dizer do que dizer palavras que não estão no coração.

VRB – Há pensadores que se insurgem contra a posse e a propriedade, taxando-as de furto. Qual sua opinião a respeito?

Gandhi – É um furto tomar alguma coisa que pertence ao próximo, mesmo com a permissão do proprietário, quando, verdadeiramente, não precisamos dela. Não devemos receber um único objeto de que não precisemos. Tal tipo de furto recai, principalmente, nos alimentos. Se eu como uma fruta que não me é necessária, ou se tomo mais do que necessito, cometo um furto. Não se conhece sempre as necessidades, e a maior partes de nós multiplica suas precisões sem justificação; assim nos tornamos, inconscientemente, ladrões. Se quisermos refletir mais sobre isso, veremos que nos é possível eliminar uma quantidade de necessidades que temos atualmente. Aquele que observa a regra da abstenção do furto reduzirá, progressivamente, as suas. Uma grande parte da miséria que vemos no mundo é resultado de infrações a este princípio de abstenção do furto.
O furto, tal qual vimos, pode ser chamado furto material ou exterior. Há, ainda, uma espécie mais sutil e muito mais aviltante para o espírito humano. Desejar mentalmente qualquer coisa que pertença a outro, ou olhar tal coisa com cobiça, é também um furto. Considera-se, geralmente, que aquele que não se alimenta, materialmente falando, jejua, mas ele será culpado de furto e de uma ruptura de seu jejum, se contemplar uma imagem mental de prazer gustativo, quando ver outras pessoas comendo. Ele é culpado da mesma maneira se, durante o seu jejum, pensar, continuadamente, em pratos os mais variados, que ele poderá saborear após sua abstinência.
Aquele que observa a regra da abstenção do furto recusará qualquer preocupação que possa adquirir no futuro. A inquietude nefasta do futuro é a origem de muitos furtos. Hoje, não faremos mais que desejar uma coisa, mas amanhã começaremos a tomar certas medidas, as mais honestas possíveis, desonestas até se necessário, para possuir esta coisa.
É possível furtar-se idéias assim como objetos materiais. Aquele que pretende, egoisticamente, ser o instigador ou o autor de uma boa idéia que na realidade não é sua, será culpado de furto de idéias. Muitos sábios, na História do mundo, foram culpa­dos deste tipo de furto, e o plagiador não é coisa rara, mesmo em nossos dias. Se, por exemplo, vejo em Andhra um novo modelo de roca e fabrico uma semelhante em Ashram, fazendo-a passar como minha invenção, estarei mentindo, e está claro que estarei furtando uma invenção que pertence a alguém.

VRB – Se a alma é imaterial, ela não está localizada espacialmente, embora muitas pessoas tenham passado pelo que se chama experiência fora do corpo.

Gandhi – A alma é onipresente; porque ficaria fechada num corpo semelhante a uma gaiola?

VRB – O medo é um comportamento inerente a todos os seres vivos como um mecanismo de sobrevivência. No entanto, os seres humanos desenvolveram novas forma de medo que não dizem respeito à defesa de sua vida. Como conseqüência, valorizou-se a coragem como forma de neutralizar o medo. Você, por exemplo, sempre revelou ser um homem corajoso a ponto de, por meio da não-violência, libertar a Índia do domínio inglês.

Gandhi – A intrepidez revela que o indivíduo está liberto de todo temor externo, que é o das doenças, das feridas físicas, da morte ou de perder seus bens, de perder os familiares, os que lhe são caros, perder sua reputação, ofender o próximo, etc. Aquele que venceu o temor da morte não venceu ainda todos os outros temores, como se supõe geralmente. Alguns entre nós já não temem a morte, mas não podem suportar a perda de seus entes queridos. Certos avaros suportam tudo, mas não a perda de seus bens. Outros farão qualquer coisa para manter seu pretenso prestígio; outros se desviarão do caminho certo e difícil que vêem claramente diante de si, simplesmente porque têm medo da censura da sociedade. Aquele que procura a Verdade deve superar todos os temores.

VRB – E o que fazer para conseguir essa coragem que você chama de intrepidez?

Gandhi – A intrepidez perfeita não pode ser alcançada senão por aquele que realizou o Supremo, pois ela implica uma total libertação de ilusões. Podemos nos aproximar disto se fizermos um esforço real e perseverante, e se confiarmos em nós mesmos.
Como já disse antes, é preciso desembaraçar-nos de todo o temor externo. Mas é preciso, também, não descuidar dos inimigos internos. Temos razão quando receamos a paixão bestial, a cólera, etc. Os temores externos cessarão por si quando triunfarmos sobre os perigos dentro de nós. O corpo é o centro de todos os temores e onde eles evoluem. Conseqüentemente, eles desaparecem desde que se libertem de toda ligação com o corpo. Vemos, assim, que todo o temor externo é tecido sem nenhuma base por nossa maneira de ver as coisas. O temor não tem lugar no coração se nos desligarmos de toda riqueza, da família e do corpo.

VRB – Além de líder espiritual, você foi também um líder político. Por isso, faço-lhe uma pergunta: qual seria a solução para o conflito entre o capital e o trabalho?

Gandhi – Como um homem que não trabalha pode ter o direito de comer? "Tu terás teu pão com o suor de teu rosto", nos diz a Bíblia. Um milionário não viverá muito tempo e se cansará logo da vida se permanecer em seu leito todo o dia, alimentando-se. O apetite vem do exercício. Se cada um, rico ou pobre, fizesse qualquer tipo de exercício, por que tal exercício não ser produtivo, por que não consistir, por exemplo, na maneira de ganhar seu pão? Ninguém pergunta ao agricultor sobre seus movimentos respiratórios e musculares. E grande parte da humanidade vive da agricultura! Como o mundo seria mais feliz, mais são e pacífico se todos seguissem o exemplo dessa maioria, que se faz auto-suficiente para poder alimentar-se, através de seu trabalho. Muitas privações associadas à vida agrícola desapareceriam facilmente se todos se unissem. As odiosas distinções de classe terminariam se cada um, sem exceção, reconhecesse a obrigação de ganhar seu pão através de seu próprio trabalho.
Existe um conflito mundial entre o capital e o trabalho, e os pobres invejam os ricos. Se cada um trabalhasse para ganhar seu pão, as distinções de classe seriam abolidas; os ricos continuariam ricos mas se considerariam apenas gerentes de sua fortuna, que empregariam para o interesse geral.

VRB – O que podemos fazer para melhorar a humanidade? Como podemos prestar serviços que melhorem a qualidade de vida dos outros? E em que isso também nos poderá melhorar como seres humanos?

Gandhi – Uma vida consagrada a servir, deve ser uma vida de humildade. Aquele que sacrifica sua vida pelo próximo, não tem tempo para assegurar seu lugar ao sol. É preciso não confundir inércia e humildade, como se tem feito no hinduísmo. A verdadeira humildade exige uma consagração inteira a serviço da humanidade, o mais árduo esforço, a maior constância. Deus está sempre em ação, sem um instante de repouso. Se queremos servi-lo ou chegar até Ele, nossa atividade deve ser infatigável, tanto quanto a Sua. A gota d'água que se separa do oceano pode encontrar momentaneamente repouso, mas a que está no oceano não conhece descanso. O mesmo acontece conosco. Desde que nos juntamos ao oceano (Deus) não mais teremos repouso, e não mais teremos desejos. Nosso próprio sono é ação, pois quando dormimos estamos com o pensamento de Deus em nosso coração. É esta atividade contínua que constitui o verdadeiro descanso. Esta agitação incessante contém o segredo da paz inefável. Tal estado supremo de total abandono é difícil de descrever, mas não está fora do alcance do homem.

VRB – Há pessoas que afirmam que a violência só se combate com a violência, e que não reagir a violência é contribuir para fortalecer os atos praticados pelos indivíduos violentos. Acha que a não-violência (ahimsâ) é o antídoto da violência?

Gandhi – Oponho-me à violência pois quando ela parece produzir o bem, tal bem não tem senão resultado transitório, enquanto que o mal produzido é permanente.
A violência é sempre violência e é sempre um pecado. Mas o que é inevitável não pode ser considerado como pecado.
Quando formos escolher entre a covardia e a violência, creio que eu aconselharia a violência...
Mas estou persuadido que a não-violência é infinitamente superior à violência. Creio que o perdão é mais nobre que o castigo.
Não posso conceber um estado de hostilidade permanente entre um homem e outro. Pois, crendo na reencarnação, vivo na esperança que, se não nesta vida humana mas numa outra, poderei cingir toda a humanidade num fraternal abraço.

VRB – Há pessoas cuja nocividade é uma permanente ameaça à sociedade. E tudo leva a crer que são irrecuperáveis em virtude de uma patologia considerada incurável. Qual sua opinião a respeito?

Gandhi – Nenhum ser humano é tão nocivo para não ser salvo. Nenhum ser humano é bastante perfeito para ter o direito de matar aquele que considera como inteiramente nocivo.

VRB – A ahimsâ, neste caso, é um perdão para todas as pessoas violentas, mesmo para aquelas que não se arrependem dos seus crimes?

Gandhi – A ahimsâ é o extremo limite do perdão. E o perdão é próprio do homem corajoso. A ahimsâ não é compatível com o temor.
A não-violência tem por condição imprescindível o poder de comover. É uma repressão consciente e deliberada do desejo de vingança que o faz sobressair. A vingança é sempre superior à submissão passiva, fraca, covarde, mas a vingança também é fraqueza. O desejo de vingança nasce do temor de um mal imaginário ou real. Aquele que não teme ninguém na terra achará difícil ter cólera contra alguém que não lhe faça mal.
A não-violência não se realiza mecanicamente. Ela é a mais alta qualidade do coração e se adquire pela prática.
Procuremos, agora, quais são as raízes próprias do ahimsâ. É o esquecimento de si próprio de forma mais absoluta. Esquecimento de si significando que se está completamente livre de toda a preocupação pelo corpo. Se um homem decide conhecer a si mesmo, isto é, realizar a Verdade, só poderá fazê-lo libertando-se completamente de seu corpo, isto é, fazendo com que qualquer outra criatura tenha diante dele um sentimento de segurança. Tal é o caminho do ahimsâ.

VRB – Há algum caso em que a pena de morte seja admissível?

Gandhi – Matar pode ser um dever. Nós destruímos tudo o que julgamos necessário para o nosso corpo. Assim, matamos para comer... Para salvar a espécie, matamos animais carnívoros. Mesmo o homicídio pode ser necessário em certos casos. Suponhamos que um homem fique louco e agressivo, e com a espada na mão massacre todas as pessoas que encontre. Se ninguém ousar dominar este ser, aquele que executar este louco merecerá o reconhecimento da comunidade e será considerado como benfeitor.

VRB – Você, em alguma circunstância especial, é favorável à eutanásia?

Gandhi – Tenho um horror instintivo em matar seres viventes em qualquer circunstância. Propõe-se mesmo que deveríamos prender cães raivosos e deixá-los morrer lentamente. A idéia que eu faço de caridade faz-me achar tal solução absolutamente inaceitável. Não posso ver, nem por instantes, um cão, ou qualquer outra criatura, abandonado sem recurso às torturas de uma longa agonia. Se diante das mesmas circunstâncias eu encontrar um ser humano e não lhe der a morte, será porque disponho de remédios mais eficazes. Mas se eu matar um cão que se encontra no mesmo caso, será porque não tenho outra maneira de ajudá-lo. Se meu filho tiver a raiva e se não existir nenhum remédio para aliviar seu sofrimento, considerarei meu dever dar-lhe a morte. O fatalismo tem limites. Devemos nos abandonar à sorte somente quando todos os remédios foram utilizados. Um dos meios, que é definitivo, para ajudar uma criança nas torturas atrozes de seu sofrimento, é dar-lhe a morte.

VRB – O que fazer para reduzir efetivamente o índice de pobreza, sem se apelar para medidas apenas paliativas?

Gandhi - Cada dia a natureza produz o suficiente para nossas carências. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de inanição.
Se todos os homens compreendessem a eterna lei moral do serviço à humanidade, considerariam como pecado acumular riqueza; então, não haveria mais desigualdade e, conseqüentemente, não haveria falta de víveres e nem pessoas morrendo
de fome.

VRB – O que você diz da prática do assistencialismo como uma das formas de ajudar às pessoas necessitadas?

Gandhi – Meu ahimsâ não me permitiria dar uma refeição gratuita a um homem são, que não trabalha honestamente para ganhá-la. Se eu tivesse poder, suspenderia todo sadâvrata (casa de caridade) onde se dá refeições por nada. Tal hábito faz degenerar nosso povo e a posse da preguiça, da ociosidade e da hipocrisia é um crime.

VRB – Você lutou, como ninguém, pela liberdade de seu país. E o conseguiu. Apesar disso, você sacrificaria seu país para salvar o mundo?

Gandhi – Um país deve ser livre para poder morrer, se necessário, para o bem do mundo. Minha concepção do nacionalismo, meu amor ao nacionalismo é que meu país possa morrer para que as raças humanas possam viver.
Não sacrifico a verdade ainda que seja para salvar meu país e minha religião.

Fonte: Valter da Rosa Borges