DIÁLOGOS IMAGINÁRIOS

Valter da Rosa Borges
Os diálogos foram montados, utilizando textos de livros escritos por pensadores vivos e mortos.
Nenhum dos diálogos é definitivo, porque pode ser ampliado com novos textos, enriquecendo, ainda mais, o seu conteúdo.

RELIGIÃO
VRB – A religião é um caminho coletivo. Mas a religiosidade é um caminho pessoal, pois resulta da relação direta entre o ser individual e o Todo. O homem, portanto, pode filiar-se a uma religião e não ter religiosidade. Mas quem tem religiosidade não necessita de religião, embora, pelos motivos mais diversos, possa pertencer a religião que mais se aproxima de sua concepção da Divindade.
Toda teologia não passa de um faz de conta. O que chamamos de dogmas são as regras deste jogo. E o jogo parece real para os jogadores, os quais, zelosamente, observam suas regras.
O que leva o homem a ser religioso?

Ralph Emerson – As religiões que chamamos de falsas já foram verdadeiras um dia.

Ludwig Feuerbach – Os homens em geral só são religiosos na dificuldade, na privação e na desgraça.

Sêneca – A religião é considerada verdade pelas pessoas comuns, mentira pelos sábios e útil pelos governantes.

Goethe – As pessoas felizes não acreditam em milagres.

VRB – Há pessoas felizes que acreditam em milagres. E também as infelizes. Milagre é questão de fé.

Bakunin – Os teólogos dizem: isso são mistérios insondáveis. Ao que respondemos: são absurdidades imaginadas por vós próprios. Começais por inventar o absurdo, depois fazei-nos dele a imposição como mistério divino, insondável e tanto mais profundo quando mais absurdo. É sempre o mesmo procedimento: credo quia absurdum [creio porque é absurdo].

Bertrand Russell – Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez de os dogmáticos terem de prová-los. Essa idéia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade.

Anatole France – Todos os homens que não sabem o que fazer desta vida desejam outra, que nunca acabe.

Isaac Asimov – Todas as religiões são a verdade sagrada para quem tem a fé mas não passam de fantasia para os fiéis das outras religiões.

Ralph Emerson – Deus constrói o seu templo no nosso coração sobre as ruínas das igrejas e das religiões.

Joseph Campbell – Mitologia é o nome que damos às religiões dos outros.

Schopenhauer – A religião pode ser comparada a alguém que pega um cego pela mão e o guia, pois este é incapaz de enxergar por si próprio, tendo como preocupação chegar ao seu destino, não olhar tudo pelo caminho.

Stendhal – Todas as religiões são fundadas sobre o temor de muitos e a esperteza de poucos.

VRB - Em alguns casos, a religião é refúgio e consolo para as pessoas infelizes, Esperança de justiça para os que se julgam injustiçados. Salvação para os que se sentem perdidos. E sedativo para os angustiados.

Bakunin – Estamos convencidos de que o pior mal, tanto para a humanidade quanto para a verdade e o progresso, é a Igreja. Poderia ser de outra forma? Pois não cabe à Igreja a tarefa de perverter as gerações mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que, através de seus dogmas, suas mentiras, sua estupidez e sua ignomínia tenta destruir o pensamento lógico e a ciência? Não é ela que ameaça a dignidade do homem, pervertendo suas idéias sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela que transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega a eterna escravidão das massas em benefício dos tiranos e dos exploradores? Não é essa mesma Igreja implacável que procura perpetuar o reino das sombras, da ignorância, da pobreza e do crime? Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século, um sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja.

Karl Marx – A religião é o ópio do povo.

Ludwig Feuerbach – O homem crê em deuses não só porque ele possui fantasias e sentimentos, mas também porque ele tem o instinto de ser feliz. Ele crê num ser feliz, não só porque tem uma idéia da felicidade, mas também porque ele quer ser feliz; ele crê num ser perfeito, porque ele próprio quer ser perfeito; ele crê num ser imortal, porque ele próprio não quer morrer. Tudo o que ele não é, mas quer ser, imagina como existente em seus deuses; os deuses são os desejos do homem pensados como reais, transformados em entidades reais; um Deus é a ânsia de felicidade do homem, satisfeita na fantasia. Se o homem não tivesse desejos, não teria religião nem deuses, apesar da fantasia e do sentimento. E quão diversos forem os desejos, tão diversos serão os deuses, e os desejos são tão diversos quanto os próprios homens. Quem não tem como objeto de seus desejos a sabedoria e a inteligência, quem não quer ser sábio e inteligente, este não tem também uma deusa da sabedoria como objeto de sua religião.
A religião é pois a essência infantil do homem. Ou, então, na religião, o homem é uma criança. A criança não consegue realizar seus desejos pela própria força,, por sua iniciativa própria, por isso volta-se com pedidos aos seres dos quais ela sabe e sente depender, a seus pais, para através deles conseguir o que quer.

Schopenhauer – As religiões, assim como as luzes, necessitam de escuridão para brilhar.

André Gide – Só o ateísmo pode pacificar o mundo de hoje.

VRB – Talvez sim. Talvez não. Se o ateísmo dominar o mundo, pode transformar-se em um sucedâneo laico da religião.

Gustave Le Bon – Se o ateísmo se propagasse, tornar-se-ia uma religião tão intolerável como as antigas.

Hermann Hesse – Os que são capazes de viver na fantasia não necessitam de religião.

Bakunin – As pessoas vão à igreja pelos mesmos motivos que vão à taverna: para estupefazerem-se, para esquecerem-se de sua miséria, para imaginarem-se, de algum modo, livres e felizes.

Bertrand Russell – Considero todas as grandes religiões do mundo – budismo, cristianismo, islamismo, comunismo, não só como falsas, como prejudiciais.

Lucrécio – Na verdade, aqueles suplícios que dizem existir no profundo Inferno, estão todos aqui, nas nossas vidas.
Assim como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo, nós, na claridade, às vezes temos receio de certas coisas que não são mais terríveis do que aquelas que as crianças temem no escuro e pensam que acontecerão a elas.
Tantos males a religião pôde aconselhar!.
É preciso afugentar com ímpeto esse medo do Inferno que perturba profundamente a vida do homem, estendendo sobre tudo a lúgubre sombra de morte e não deixando existir nenhuma alegria serena e inteira.

Marquês de Sade – Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes.

Freud – Para fugir ao sofrimento, os homens esforçam-se, em conjunto e em grande número, para assegurar proteção contra o mesmo, por meio de uma deformação quimérica da realidade. Portanto, as religiões da humanidade devem ser consideradas delírios desta ordem. Naturalmente, aquele que participa de um delírio não pode reconhecê-lo como tal.
A humanidade sofre de um complexo de Édipo coletivo, cuja doença neurótica é a religião.
Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa.
A religião é comparável a uma neurose da infância.
Aldous Huxley - O impulso para superar a personalidade autoconsciente é, como já o disse, um anseio capital da alma. Quando, seja por que razão, os seres humanos vêem baldados os seus esforços para superarem a si mesmos pelo culto, pelas boas ações e pela atividade intelectual, tornam-se propensos a recorrer às drogas substitutas da religião — o álcool e as "pílulas inocentes" no moderno Ocidente, o álcool e o ópio no Oriente, o haxixe no Mundo Maometano, o álcool e a maconha na América Central, o álcool e a coca nos Andes, o álcool e os barbituratos nas regiões mais adiantadas da América do Sul. Em Poisons Sacrés, Ivresses Divines (Venenos Sagrados, Êxtases Divinos), Philippe de Félice escreveu exaustivamente, e com riqueza de documentação, sobre os laços imemoriais que ligam a região à ingestão de drogas. A seguir, ora resumindo, ora transcrevendo, apresento suas conclusões:
"O emprego, para fins religiosos, de substâncias tóxicas, é extraordinariamente difundido. .. As práticas podem ser observadas em qualquer região da Terra, tanto entre os povos primitivos como no seio daqueles que já atingiram um elevado índice de civilização. Não estamos, pois lidando com fatos excepcionais que poderiam ser, com razão, postos à margem; mas com um fenômeno geral e, dentro da mais ampla acepção da palavra, humano; com um tipo de fenômeno que não pode ser desprezado por quem quer que busque descobrir que é a religião e quais as necessidades profundas a que ela tem de satisfazer".

Mário Quintana - A teologia é o caminho mais longo para chegar a Deus.

Carl Sagan – Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.

Bertrand Russell – Não acredito que, medindo vantagens e desvantagens, a crença religiosa tenha sido uma força a favor do bem. Embora esteja disposto a admitir que em certas épocas e lugares produziu bons resultados, considero-a pertencente à infância do raciocínio humano, a uma fase de desenvolvimento que já estamos superando.
As pessoas dirão que, sem os consolos da religião, elas seriam intoleravelmente infelizes. Tanto quanto este argumento é verdadeiro, também é covarde. Ninguém senão um covarde escolheria conscientemente viver no paraíso dos tolos. Quando um homem suspeita da infidelidade de sua esposa, não lhe dizem que é melhor fechar os olhos à evidência. Não consigo ver a razão pela qual ignorar as evidências deveria ser desprezível em um caso e admirável no outro.

Ashley Montagu – A ciência tem provas sem certeza. Os teólogos têm certeza sem qualquer prova.

Einstein – Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.
A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte.

George B. Shaw – O fato de um crente ser mais feliz que um cético não é mais pertinente que o fato de um homem bêbado ser mais feliz que um sóbrio.

Napoleão Bonaparte – Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas.

Sigmund Freud – A religião é um sistema de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável e que, por outro lado, lhe garantem que uma Providência cuidadosa velará por sua vida e o compensará, numa existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui. O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão patentemente infantil, tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de lamentáveis atos retrógrados.
Os que não padecem desta neurose talvez não precisem de intoxicante para amortecê-la. Encontrar-se-ão, é verdade, numa situação difícil. Terão de admitir para si mesmos toda a extensão de seu desamparo e insignificância na maquinaria do universo; não podem mais ser o centro da criação, o objeto de eterno cuidado de uma Providência beneficente. Estarão na mesma posição de uma criança que abandonou a casa paterna, onde se achava tão bem instalada e tão confortável. Mas não há dúvidas que o infantilismo está destinado a ser superado. Os homens não podem permanecer crianças para sempre; têm de, por fim, sair para a vida ‘hostil’.

Krishnamurti – Religião é a busca da verdade. É a investigação para descobrir o Desconhecido. É uma experiência instantânea daquele estado mental que está fora da continuidade do tempo.

Albert Einstein – Minha religião consiste numa admiração humilde ao Espírito Superior e Ilimitado que se revela a si mesmo nos mínimos pormenores, que estamos aptos a captar com nossas fracas e irrelevantes mentes. A profunda certeza de um Poder Superior que se revela no Universo, difícil de ser compreendido, forma a minha idéia de Deus.

Carl Sagan – Como é possível que praticamente nenhuma religião importante tenha olhado para a ciência e concluído: “Isso é melhor do que imaginávamos! O universo é muito maior do que disseram nossos profetas, mais grandioso, mais sutil, mais elegante”? Em vez disso, dizem: “Não, não, não! Meu deus é um deus pequenininho, e quero que ele continue assim”. Uma religião, antiga ou nova, que ressaltasse a magnificência do universo como a ciência moderna o revelou poderia atrair reservas de reverência e respeito que continuam quase intocadas pelas crenças convencionais.

VRB – Qualquer religião que ensine os seus seguidores a matar e a morrer em nome dela ou de seu deus é um permanente perigo para a humanidade. Os seus líderes transformam pessoas em robôs, hipnotizados por promessas de recompensas no Além.

Napoleão – A religião é aquilo que impede os pobres de matarem os ricos. Todas as religiões foram criadas pelo homem.

Roger Garaudy – A ciência só é rival da fé quando a religião faz de Deus um matemático, um físico taumaturgo ou um alquimista. A técnica só é rival da fé quando a religião faz de Deus um fabricante de mundos.

Albert Einstein – A Ciência não apenas purifica o espírito religioso do azinhavre de seu antropomorfismo, mas contribui também para uma espiritualização religiosa de nossa compreensão da vida.

William James – O fundamento da religião é a fé e as experiências religiosas.
Acredito que o sentimento é a fonte mais profunda da religião e que as fórmulas filosóficas e teológicas são produtos secundários, como as traduções de um texto para outras línguas.

Erich Fromm – A essência da experiência religiosa é a submissão a poderes superiores.
O problema da religião não é o problema de Deus, e sim o problema do homem e, por conseguinte, as formulações e os símbolos religiosos são tentativas para exprimir certos tipos de experiência humana.
Entendo que há dois tipos de religião: a) a autoritária, cuja essência é a submissão a um poder transcendental, onde o homem perde a sua independência e integridade, mas ganha um sentimento de estar protegido por um poder que inspira respeito; b) a humanista, que se centraliza no homem e nas suas potencialidades, cuja virtude consiste na realização pessoal e não na obediência, assim como no sentimento de solidariedade de todas as coisas.
Enquanto na religião autoritária, o tom emocional é de tristeza e culpa, o da religião humanista é de alegria.
A religião pode importar em desenvolvimento ou em paralisação das potencialidades humanas. O ritual funciona como mecanismo de catarse psicológica.

Gandhi – As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?

Fustel de Coulanges – Distingo duas fontes da religião: a) uma interna e que nasce das projeções psicológicas dos homens, exprimindo os "precipitados" subjetivos de sua experiência; b) uma externa, derivada das reações dos homens a forças naturais.

Joachim Wach – Nenhum dos grandes fundadores - Jesus Cristo, Buda, Jaina, Maomé, Zoroastro, Mani, Confúcio, Lao-Tsé - tencionava "fundar uma religião". Cada qual, a seu modo, estava interessado em por em prática uma experiência que se tornou decisiva em sua vida, determinando uma postura peculiar em relação aos problemas existenciais e transcendentais.

Whitehead – A religião é o que o indivíduo faz com a sua própria solidão.

VRB – Infelizmente, cada religião se proclama a única verdadeira, sendo as demais falsas.

Émile Durkheim – Não existem religiões falsas, porque todas elas são essencialmente sociais. São uma projeção da experiência social.

Max Weber – A necessidade racional de uma teodicéia do sofrimento e da morte teve efeitos extremamente fortes. Na realidade, essa necessidade modelou importantes traços de religiões como o hinduísmo, o zoroastrismo e o judaísmo e, até certo ponto, o cristianismo paulino e posterior. Ainda em 1906 uma simples minoria entre um número bastante considerável de proletários mencionou como razões para não acreditarem no cristianismo as conclusões das modernas teorias das Ciências Naturais. A maioria, porém, referiu-se à "injustiça" da ordem do mundo — na verdade, essencialmente porque acreditava numa compensação revolucionária ainda neste mundo.
A teodicéia do sofrimento pode ser colorida de ressentimento. Mas a necessidade de compensação pela insuficiência de nosso destino neste mundo não tem, em geral, o ressentimento como um elemento básico e decisivo. Sem dúvida, a necessidade de vingança teve uma afinidade especial com a convicção de que os injustos se saem melhor neste mundo, apenas o inferno lhes está reservado no outro. A bênção eterna está reservada para os pios; os pecados ocasionais, que, afinal de contas, os pios também cometem, devem portanto ser expiados neste mundo. Não obstante, podemos ver facilmente que nem mesmo esse modo de pensar, que surge ocasionalmente, é determinado pelo ressentimento, e que não é, de forma alguma, o produto de camadas oprimidas socialmente. Veremos que houve apenas alguns exemplos de religião para os quais o ressentimento contribuiu de forma essencial. Entre eles, apenas um se desenvolveu plenamente. Só podemos dizer que o ressentimento poderia ser, e com freqüência o foi em toda parte, significativo como um fator, entre vários, de influência sobre o racionalismo, determinado religiosamente, de camadas socialmente desprivilegiadas. Adquiriu essa significação em graus altamente diversos e com freqüência mínimos de acordo com a natureza das promessas apresentadas pelas diferentes religiões.
De qualquer modo, seria errôneo procurar atribuir o “ascetismo” em geral a tais fontes. A desconfiança da riqueza e poder, que em geral existe nas religiões de salvação autênticas, teve sua base natural principalmente na experiência dos redentores, profetas e sacerdotes. Eles compreenderam que as camadas "saciadas" e favorecidas neste mundo tinham pouco desejo de ser salvas, qualquer que fosse a salvação oferecida. Daí terem sido essas camadas dominantes menos “devotas”, no sentido das religiões de salvação. A evolução de uma ética religiosa racional teve raízes positivas e primárias nas condições íntimas das camadas sociais que eram menos valiosas socialmente.

Aldous Huxley – Parece haver duas razões principais para o observado desenvolvimento das religiões históricas. Primeiro, muitas pessoas não querem espiritualidade e libertação, mas sim uma religião que lhes dê satisfações emocionais, respostas às preces, poderes sobrenaturais e salvação parcial numa espécie de céu póstumo. Segundo, alguns desses poucos que desejam espiritualidade e libertação verificam que, para eles, a forma mais eficaz para atingir esses fins são as cerimônias, "as vãs repetições" e os ritos sacramentais. É pela participação nesses atos e repetindo fórmulas que são mais poderosamente lembrados da Base Eterna de todos os seres; é imergindo nos símbolos que eles podem mais facilmente chegar àquilo que é simbolizado. Cada coisa, evento ou pensamento pode, portanto, ser um ponto de interseção entre a criatura e o criador, entre uma mais ou menos distante manifestação de Deus e um raio, por assim dizer, da Divindade imanifestada; cada coisa, evento ou pensamento pode, portanto, transformar-se numa porta pela qual a alma pode passar do tempo à eternidade. Esta é a razão por que as religiões ritualistas e sacramentais podem levar à libertação. Mas, ao mesmo tempo, todo ser humano ama o poder e o auto-engrandecimento, e toda cerimônia santificada, fórmula ou rito sacramental é um canal através do qual poderá fluir a fascinante energia de um universo psíquico para o universo dos seres corporificados. Esta é a razão por que a religião ritualista e sacramental pode também distanciar-se da libertação.

Joseph Campbell – O judaísmo não busca novos adeptos, mas as outras três – islamismo, cristianismo e comunismo – são tradições assassinas. A meta de cada uma é a total conquista do mundo.

VRB – Os satisfeitos com a vida terrena não se preocupam com a vida espiritual. Não estão à espera de compensações no Além, porque não têm frustrações, nem revolta. A sua religiosidade é apenas social. Somente na doença e proximidade da morte, alguns deles, por temor, se voltam para a religião, com o fito de garantir o seu bem-estar num possível Além.
Para salvar a alma, vale tudo: jejuns, mortificações, preces, caridade, confissão de pecados, renúncia à vida material e orações.

Bertrand Russell – A religião baseia-se, penso eu, principalmente e antes de tudo, no medo. É, em parte, o terror do desconhecido e, em parte, como já o disse, o desejo de sentir que se tem uma espécie de irmão mais velho que se porá de nosso lado em todas as nossas dificuldades e disputas. O medo é a base de toda essa questão: o medo do mistério, o medo da derrota, o medo da morte. O medo é a fonte da crueldade e, por conseguinte, não é de estranhar que a crueldade e a religião tenham andado de mãos dadas. Isso porque o medo é a base dessas duas coisas. Neste mundo, podemos agora começar a compreender um pouco as coisas e a dominá-las com a ajuda da ciência, que abriu caminho, passo a passo, contra a religião cristã, contra as Igrejas e contra a oposição de todos os antigos preceitos. A ciência pode ensinar-nos, e penso que também os nossos corações podem fazê-lo, a não mais procurar apoios imaginários, a não mais inventar aliados no céu, mas a contar antes com os nossos próprios esforços aqui embaixo para tornar este mundo um lugar adequado para viver, ao invés da espécie de lugar a que as igrejas, durante todos estes séculos, o converteram.

Aldous Huxley – A religião como sistema de crenças sempre foi uma força ambivalente. Ela produz ao mesmo tempo a humildade e o que os poetas medievais chamam de "prelado altivo", o tirano eclesiástico. Produz a mais alta forma de arte e a mais baixa forma de superstição. Acende as chamas da caridade e também as fogueiras da Inquisição e aquela que queimou Servetus na Genebra de Calvino. Produz São Francisco e Elizabeth Fry mas também produz Torquemada e Kramer e Springer, autores do Malleus Maleficorum (Malho dos feiticeiros), o grande manual dos caçadores de bruxas publicado no ano em que Colombo descobriu a América. Produz George Fox mas também o Arcebispo Laud. Essa tremenda força da religião como sistema teológico sempre foi ambivalente, exatamente por causa da estranha natureza da crença e da estranha capacidade do homem de inventar respostas fantásticas quando envolve-se em especulações filosóficas.
De modo geral, os mitos têm sido menos perigosos do que os sistemas teológicos porque são menos precisos e têm menos pretensões. Onde existem sistemas teológicos exige-se que essas proposições sobre fatos do passado e futuro, e sobre a estrutura do universo, sejam absolutamente verdadeiras; conseqüentemente, a relutância em aceitá-las é encarada como rebelião contra Deus, merecedora do mais severo castigo. E vemos que, de fato, segundo o registro histórico, esses sistemas têm sido usados como justificação para quase todos os atos de agressão e expansão imperialista. Quase não há um só crime em grande escala na história que não tenha sido cometido em nome de Deus. Isso foi resumido há muitos séculos no hexâmetro de Lucrécio: "Tantum religio potuit suadere malorum"(Tão grandes males a religião persuadiu o homem a cometer). E ele deveria ter acrescentado: "Tantum religio potuit suadere bonorum" (e também persuadiu o homem a fazer tão grandes bens). No entanto, o bem tem de ser pago com uma grande dose de mal.

Nietzsche – Como pode alguém considerar como revelação sua própria opinião sobre as coisas? Esse é o problema da formação das religiões: cada vez um homem entrava em jogo para quem esse fenômeno era possível. A condição prévia era que acreditasse já precedentemente nas revelações. De repente, uma nova idéia lhe vem à mente, sua idéia, e o que há de inebriante numa grande hipótese pessoal que abrange a existência e o mundo inteiro penetra com tanto poder em sua consciência, que ele não ousa julgar-se o criador de uma tal felicidade, atribuindo sua causa, e também a causa que ocasiona esse pensamento novo, a seu deus: enquanto revelação desse deus. Como poderia um homem ser o autor De tão grande felicidade? -pergunta sua dúvida pessimista. Além disso, outras alavancas agem em segredo: por exemplo, reforça-se uma opinião diante de si mesmo, considerando-a como uma revelação, elimina-se assim o que ela tem de hipotético, é subtraída à critica e mesmo à dúvida, e assim é tornada sagrada. É verdade que nos rebaixamos desse modo ao papel de órgão, mas nosso pensamento acaba por ser vitorioso sob o nome de pensamento divino – esse sentimento de permanecer vencedor com ele no final das contas, esse sentimento vence o sentimento de rebaixamento. Outro sentimento se agita muda num segundo plano: quando se eleva o próprio produto acima de si, fazendo aparentemente abstração de seu próprio valor, conserva-se, contudo, uma espécie de alegria do amor paterno e orgulho paternal que apaga tudo, que faz ainda mais que apagar.

Jung – Uma das funções da religião é nos proteger da experiência religiosa.

Michel Montaigne – Os homens tendem a acreditar sobretudo naquilo que menos compreendem.

VRB – Um dos fundamentos da religião é a ação de Deus no mundo em forma de milagre.

Anatole France – Definem-nos o milagre: uma derrogação das leis da natureza. Não as conhecemos; como saberíamos que um fato as derroga?

David Hume – Nenhum depoimento é suficiente para estabelecer um milagre, a menos que o depoimento seja de tal natureza que a sua falsidade seria mais milagrosa que o fato que ele pretende estabelecer.

Mário Quintana – Tudo o que acontece é natural - inclusive o sobrenatural.

Joseph Campbell – Religiões repletas de ornatos e minúcias nos protegem de uma experiência mística explosiva que seria excessiva para nós.

Gandhi – Creio na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Creio que são todas concedidas por Deus e creio que eram necessárias para os povos a quem essas religiões foram reveladas. E creio que se pudéssemos todos ler as escrituras das diferentes fés, sob o ponto de vista de seus respectivos seguidores, haveríamos de descobrir que, no fundo, foram todas a mesma coisa e sempre úteis umas às outras.
Thomas Paine – A minha mente é a minha igreja.
Einz Pagels – Se a fé se alicerça na ciência, quando a ciência muda de idéias sobre a natureza da realidade, a fé pode ver-se perturbada.

Francis Bacon – Um pouco de filosofia leva a mente humana ao ateísmo, mas a profundidade da filosofia leva-a para a religião.

Jiddu Krisnamurti – Religião é uma experiência instantânea daquele estado mental que está fora da continuidade do tempo.
Não há intermediário entre vós e a Realidade; e se o há, é um corruptor, um malfeitor, não importa quem ele seja, se o mais sublime Salvador ou vosso mais novo guru ou instrutor.

Edgar Morin – A religião é uma adaptação que traduz a inadaptação humana à morte, uma inadaptação que acha a sua adaptação.

Erasmo – Quantas lindas e lorotas não vão esses doutores impingindo a respeito do inferno? Conhecem tão bem todos os seus apartamentos, falam com tanta franqueza da natureza e dos vários graus do fogo eterno, e das diversas incumbência dos demônios e, discorrem, finalmente, com tanta precisão sobre a república dos danados, que parecem já ter sido cidadãos da mesma durante muitos anos. Além disso, quando julgam conveniente, não se poupam ao trabalho de criar ainda novos mundo, como o mostraram formando o décimo céu, por eles denominado empíreo e fabricado expressamente para os beatos, sendo mais do que justo que as almas glorificadas tivessem uma vasta e deliciosa morada para aí gozarem de todo o conforto, divertindo-se juntas e até jogando a péla quando tivessem vontade.

Albert Einstein – A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia.
A religião cósmica é o móvel mais poderoso e mais generoso da pesquisa científica.
A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte.
A ciência sem a ciência é paralítica – a religião sem a ciência é cega.

Abraham Lincoln – Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais.

Bertrand Russell – A maioria dos homens intelectualmente eminentes não acredita na religião cristã, mas esconde esse fato do público, porque tem medo de perder sua renda.
CIÊNCIA

VRB – Ainda não há um consenso sobre o que é a ciência e o que não é ciência. É o tema em discussão neste encontro.

Karl Popper - A ciência não é um sistema de enunciados certos ou bem estabelecidos, nem é um sistema que avance continuamente em direção a um estado de finalidade. Nossa ciência não é conhecimento (episteme): ela jamais pode proclamar haver atingida verdade ou um substituto da verdade, como a probabilidade.

VRB – Podemos aventar a hipótese da inércia cognitiva, mediante a qual tudo se estabiliza numa imobilidade dogmática. Parece-se que a ciência tem a tendência de fechar-se em paradigmas.

Max Planck – Uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo com que vejam a luz, mas porque seus oponentes finalmente morrem e uma nova geração cresce familiarizada com ela.

Jacobi Bronowski – A Ciência é uma tentativa de representar o mundo conhecido como um sistema fechado com um formalismo perfeito. A descoberta científica é um constante processo dissidente para forçar a abertura dos limites do sistema, para revelá-lo outra vez e, então, depois de ter introduzido sua parcela específica de trabalho, fechá-lo rapidamente. É claro que todos gostariam que a sua fosse a última descoberta. Mas, ora — ou prefiro dizer, felizmente — isto não acontece. É da natureza de todos os sistemas simbólicos só permanecerem fechados enquanto não se tenta dizer alguma coisa com eles, que já não esteja contida em todo o trabalho experimental feito.
O que distingue a Ciência é ela ser uma tentativa sistemática de estabelecer sistemas fechados, um depois do outro. Mas toda a descoberta científica fundamental abre novamente o sistema.
A ciência não é um livro, registro de fatos ou regras; é o processo de criação de conceitos que dão unidade e sentido à natureza.

Thomas Kuhn - Embora algumas vezes seja necessário uma geração para que a mudança se realize, as comunidades científicas seguidamente têm sido convertidas a novos paradigmas. Além disso, essas conversões não ocorrem apesar de os cientistas serem humanos, mas exatamente porque eles o são. Embora alguns cientistas, especialmente os mais velhos e mais experientes, possam resistir indefinidamente, a maioria deles pode ser atingida de uma maneira ou outra. Ocorrerão algumas conversões de cada vez, até que, morrendo os últimos opositores, todos os membros da profissão passarão a orientar-se por um único - mas já agora diferente - paradigma.

VRB – Até certo ponto, isso é verdade. Mas há idéias obsoletas que possuem uma força assaz poderosa e que atravessam gerações até finalmente perda sua validade. Uma idéia que se arrime no senso comum é dotada de uma extraordinária vitalidade.

Gaston Bachelard – Só existe um meio de fazer a ciência avançar: é o de atacar a ciência já constituída, ou seja, mudar a sua constituição.
A ciência contemporânea pretende conhecer fenômenos e não coisas. Ela não é de modo algum coisista. A coisa não é mais do que um fenômeno parado.

George Bernard Shaw – A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez.

VRB – A ciência tem a sua fé e seus fanáticos. A crença de que o universo é organizado e, portanto, inteligível e que a razão é capaz de, um dia, entender e dominar a realidade. E tem os seus fanáticos: aqueles que transformaram hipóteses em dogmas, consolidando paradigmas que subjugam a comunidade científica de determinada época.

Albert Einstein – Sem a convicção de uma harmonia íntima do universo, não poderia haver ciência. Esta convicção é, e continuará a ser, a base de toda a criação científica.
A ciência sem a religião é coxa, a religião sem a ciência é cega.

VRB – A fé é a certeza sem prova. A ciência é a probabilidade da certeza.

Max Planck – Quem quer que se tenha ocupado seriamente de trabalho científico de qualquer tipo percebe que sobre os portões de entrada do templo da ciência estão escritas as palavras: Deveis ter fé. É uma qualidade que o cientista não pode dispensar.

Albert Einstein – A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o mistério. É esta a emoção fundamental que está na raiz de toda ciência e arte. O homem que desconhece esse encanto, incapaz de sentir admiração e estupefação, esse está, por assim dizer, morto, e tem os olhos extintos.

Max Planck – A ciência não pode resolver o mistério final da natureza. E isso porque em última análise nós mesmos somos parte do mistério que estamos tentando resolver.

Rámon y Cajal – Enquanto o cérebro for um mistério, o universo também será um mistério.

Karl Popper – O objetivo da ciência é saber cada vez mais.

Arthur Koestler – A ciência não pode dar as respostas definitivas, mas pode formular as perguntas adequadas.

René Thom – Em carta que dirigi a Paul Germain, afirmei que não há critério único de cientificidade. Cada domínio disciplinar elabora os seus próprios critérios de cientificidade.

Ludwig Von Bertalanffi – A ciência em geral consiste em larga medida em super-simplificações nos modelos que usa. Há um aspecto de idealização em cada lei e modelo da ciência. O modelo do átomo concebido por Bohr foi uma das mais arbitrarias simplificações jamais concebidas, mas entretanto tornou-se uma pedra angular da física moderna.

Karl Popper – O velho ideal científico da episteme - do conhecimento absolutamente certo, demonstrável - mostrou não passar de um "ídolo". A exigência da objetividade científica torna inevitável que todo enunciado científico permaneça provisório para sempre. Pode ele, é claro, ser corroborado, mas toda corroboração é feita com referência a outros enunciados, por sua vez provisórios. Apenas em nossas experiências subjetivas de convicção, em nossa fé subjetiva, podemos estar "absolutamente certos".

Carl Sagan – Existem muitas hipóteses em ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável, eles são a abertura para achar as que estão certas.

Jules Henri Poincaré – Assim como casas são feitas de pedras, a ciência é feita de fatos. Mas uma pilha de pedras não é uma casa e uma coleção de fatos não é, necessariamente, ciência.

VRB – Por mais que avancemos em todas as áreas do conhecimento, surgem sempre novos mistérios como subprodutos da nossa crescente ignorância.

Hubert Reeves – Hoje, os cientistas admitem que todas as teorias da física contemporânea são aproximativas. Nenhuma dá uma imagem universalmente válida do mundo real. Além disso, cada uma funciona dentro de determinado domínio, definido por certas condições e fora do qual se torna inútil.

Albert Einstein – A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o mistério. É esta a emoção fundamental que está na raiz de toda ciência e arte. O homem que desconhece esse encanto, é incapaz de sentir admiração e estupefação, esse já está, por assim dizer, morto, e tem os olhos extintos.

VRB – Platão já dizia que o espanto é próprio do filósofo. Já os estóicos afirmavam que o sábio não se espanta com nada. Se o espanto é o ato de encantar-se com o inédito, concordo plenamente com Platão.

Albert Einstein – O trabalho de pesquisadores e cientistas germina no campo da imaginação e da intuição.

Mário Schenberg – A criação científica é uma coisa bastante interessante. Se fosse simplesmente raciocinar logicamente seria uma coisa fácil, mas não é. Às vezes, é preciso raciocinar errado para chegar ao resultado certo. Agora, qual o método para raciocinar errado e chegar a uma solução correta, é uma grande incógnita.

Jacob Bronowski – A ciência é uma descrição do mundo, ou melhor, uma linguagem para descrever o mundo. Confina-se nos limites das observações, e nada afirma fora do escopo da observação. Qualquer outra coisa não é ciência, é escolástica.
A ciência é uma atividade de ordenação da nossa experiência. É um mecanismo de previsão em processo de contínua autocorreção.
A ciência começa pela crença numa ordem do mundo; ou melhor, que o mundo pode ser ordenado por arranjo humano. Ela é um conjunto de observações ordenadas e um mecanismo de previsão em processo de contínua autocorreção. A ciência é a aceitação do que é eficaz e a rejeição do que não é.
Temos de aprender a compreender que o conteúdo de todo conhecimento é empírico e que seu teste é a eficácia.
O que distingue a Ciência é ela ser uma tentativa sistemática de estabelecer sistemas fechados, um depois do outro. É uma atividade experimental baseada em tentativas e erros. Mas toda a descoberta científica fundamental abre novamente o sistema.
A ciência não é um árido registro de fatos, mas sim a procura da ordem dentro dos fatos. E a verdade da ciência não é a verdade do fato, que nunca pode ser mais que aproximada, mas a verdade das leis que vemos nos fatos.
Toda concepção de causas em ciência provém, historicamente, do êxito da lei da gravidade.
A ciência não é um árido registro de fatos, mas sim a procura da ordem dentro dos fatos. E a verdade da ciência não é a verdade do fato, que nunca pode ser mais do que aproximada, mas a verdade das leis que vemos nos fatos.
A ciência não pode existir sem juízos de valor e nem como uma pálida atividade mecânica.

Albert Einstein – Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade.

VRB – A ciência se constrói a partir das nossas experiências com o mundo?

Jacob Bronowski – Não. Não construímos o mundo a partir de nossas experiências: temos, sim, consciência do mundo em nossas experiências.
É a mente inquisidora que transforma o acidente num ao providencial.

VRB – A ciência, pelo seu prestigio, se tornou, sob certos aspectos, um sucedâneo da religião. Assim, parece existir uma tendência de que ela satisfaça nossos desejos, mediante milagres tecnológicos.

Carl Sagan – E se o mundo não corresponde em todos os aspectos a nossos desejos, é culpa da ciência ou dos que querem impor seus desejos ao mundo?

VRB – A confiabilidade de uma hipótese científica se legitima através do teste?

Jacobi Bronowski – O objetivo da ciência é funcionar, e não se testada, embora seja preciso testá-la como um diagnóstico, ou salvaguarda instrumental, a fim de que possamos perceber disfunções, não devemos pôr o carro à frente dos bois. Mesmo do ponto de vista lingüístico, estaremos fazendo um convite ao erro se descrevermos toda ação científica como um teste. A exigência funcional é que uma teoria científica funcione – como quer que se defina o termo. E perderemos esse conceito se permitirmos que a linguagem do diagnóstico o distorça, falando em teste toda a vez que o aplicarmos.

VRB – Há hipóteses que são rejeitadas à míngua de comprovação empírica.

Carl Sagan – A ausência da evidência não significa evidência da ausência.

Gregory Bateson – A ciência é uma maneira de perceber.
A ciência investiga; ela não prova nada. Ela, às vezes, aperfeiçoa hipóteses e algumas vezes as refuta.

Jacob Bronowski – O símbolo e a metáfora são tão necessários à ciência como à poesia.

VRB – E qual, na sua opinião, deve ser a postura do cientista?

Jacob Bronowski – A discordância. Ela deve ser a atividade natural do cientista. Ninguém pode ser um cientista se não possuir independência de observação e de pensamento.
Por incrível que pareça, não existem regras técnicas para o êxito da ciência.
Todos os cientistas têm de aprender duramente a sua lição, isto é, respeitar as opiniões do seu semelhante, ainda que ele seja bastante indelicado na expressão das mesmas.

VRB – Parece que a ciência moderna se inclina mais para o probabilismo do que para o determinismo.

Jacob Bronowski – É esse o pensamento revolucionário da ciência moderna. Substitui o conceito do efeito inevitável pelo de tendência provável.

VRB – Ainda permanece o ranço de se afastar as ciências da natureza das ciências humanas e sociais.

Jacob Bronowski – É um equívoco. Não há ciência que não seja, de algum modo, ciência social.

VRB – Podemos falar em verdades científicas?

Paul Davies – Nem todos os físicos pensam que tenha sentido falar da “verdade” . A física, segundo esta outra filosofia, nada tem a ver com a verdade, mas com modelos: modelos que nos ajudam a rela­cionar observações de forma sistemática. Niels Bohr expressou este ponto de vista, dito positivista, ao dizer que a física enuncia o que nós podemos saber acerca do mundo, e não como ele é. A teoria quântica levou muitos cientistas a decla­rar que não há realidade “objetiva” de espécie alguma. A única rea­lidade é a revelada pelas nossas observações. Segundo este ponto de vista, não é possível afirmar que uma teoria está 'certa' ou 'errada', mas apenas se é útil ou não; e uma teoria útil é a que conecta um vasto âmbito de fenômenos num único esquema descritivo bastante apurado. Este ponto de vista é diametralmente oposto ao da religião, em que o adepto acredita numa verdade última. Uma proposição religiosa é vulgarmente tomada como certa ou errada, e não como uma espécie de modelo das nossas experiências.

Karl Popper – As teorias científicas procuram organizar a realidade, descobrindo regularidades e tornando possível a previsibilidade de fatos. O mais importante, porém, numa teoria é a sua capacidade de enfrentar críticas e testes. E a melhor teoria é aquela que explica mais e com maior precisão, permitindo melhores previsões. A ciência não se origina de observações, mas de problemas e “a maior contribuição de uma teoria para o crescimento do conhecimento científico está nos problemas que suscita”. As teorias são aproximações da verdade. Por conseguinte, “é um erro acreditar que a atitude do cientista natural é mais objetiva do que a do cientista social”.
Uma boa teoria é aquela que, em princípio, pode ser refutada. Aquela que proíbe alguma coisa e é derrubada quando o proibido acontece. Aquela que fixa algumas condições sob as quais se tornaria insustentável. Por conseguinte, uma teoria irrefutável não é científica.
Para fugir a qualquer postura dogmática, é mister considerar todas as leis e teorias como tentativas, mesmo quando não seja mais possível duvidar delas.
É mais fácil tornar uma teoria científica credível do que prová-la.

VRB – Para os cientistas, a objetividade é a que distingue dos demais ramos do conhecimento.

Karl Popper – A objetividade da ciência consiste na atitude de criticismo e no exame crítico da experiência. Porém, “uma teoria científica pode tornar-se uma moda intelectual, um substituto para a religião, uma ideologia entrincheirada”. O verdadeiro coração da filosofia é constituído pelos problemas da teoria do conhecimento. Constitui uma “perdição intelectual” o abandono de problemas reais em favor de problemas meramente verbais.

VRB – E quanto à afirmação da neutralidade científica?

Karl Popper – A neutralidade científica é um mito, pois “não podemos roubar o partidarismo de um cientista sem também roubá-lo de sua humanidade, e não podemos suprimir o destruir seus juízos de valores sem destruí-lo como ser humano e como cientista. Se há valores extracientíficos da atividade científica, o cientista “objetivo” ou “isento de valores” é, dificilmente, o cientista ideal.

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