Valter da Rosa Borges
Como seria o mundo se não houvesse religiões? Se tanta coisa ruim acontece no mundo povoado de religiões que, inclusive se digladiam entre si, sendo origem de muitas guerras, o que seria do ser humano se elas não existissem? Seria ainda pior? Aumentariam os conflitos interpessoais e a guerra entre os países? A vida se tornaria insuportável, levando a humanidade ao caos, com o aumento descontrolado da criminalidade, tornando gradativamente inviável a vida em sociedade? A ciência e a tecnologia seriam unicamente utilizadas para a destruição inevitável da raça humana, porque, sem religião, o ser humano é necessariamente perverso e pervertido? São as religiões que garantem o progresso e o bem estar da sociedade, embora tenham sido impotentes para diminuir a crescente onda de violência e atrocidades, que avassala o mundo inteiro? Sem religião, desapareceriam os pacificadores, substituídos por líderes tirânicos e sanguinários, lutando entre si pela conquista do mundo? Sem religião, inexistiriam os ideais de justiça e solidariedade entre as pessoas e os povos? O respeito e o amor entre pais e filhos? A confiança entre os amigos? A convivência pacífica entre as pessoas? Ninguém se comoveria pela morte e sofrimento dos outros? Ninguém se abalaria em ajudar as pessoas e as comunidades atingidas por epidemias e catástrofes da natureza?
É por que temos uma religião que ajudamos os outros em suas necessidades? É por causa da religião que os não-religiosos e ateus ainda não dominaram o mundo, levando-o à sua destruição?
Se muitos religiosos têm a fraqueza de praticar os mais diversos crimes, alguns de extrema barbaridade, imagine-se o aumento da maldade em nível mundial se crescesse perigosamente o número de não-religiosos e ateus, passando o ocupar os mais importantes cargos em todos os campos da atividade humana! Por isso, é compreensível que os potentados religiosos tenham perseguido, torturado e matado os não-religiosos e ateus, que tiveram a ousadia de contestar os dogmas da religião. Se assim não procedessem, imbuídos de tão elevado senso de justiça, essa epidemia de pessoas perversas e pervertidas se espalharia pelo mundo, contaminando todos os povos, e ameaçando antecipar o Apocalipse. Assim, graças ao consolo anestésico da religião, vivemos sofrendo esperançosamente no melhor dos mundos possíveis.
O ateu é geralmente uma pessoa odiada. Ela tem, contra si, o rancor e o desprezo dos fieis de todas as religiões. Por isso, dificilmente um ateu declara sua posição filosófica, temendo ser discriminado na sociedade.
As famosas “noites escuras da alma” resultam da relutância de certos místicos em aceitar sua dúvida a respeito do que crê, e assumir o seu ateísmo nascente. Por isso, sofrem a vida toda dessa ambivalência, e buscam angustiadamente recuperar a fé abalada ou mesmo perdida.
O que tem a crença pessoal em Deus com o delírio do fanatismo religioso e com as mitologias inventadas pela religião? As religiões podem ser, ao contrário, um antídoto contra a crença em Deus.
Se o ateísmo dominasse o mundo, ninguém mais morreria ou mataria em nome da religião. Mas, se o ateísmo começasse a perseguir e/ou matar as pessoas religiosas, passaria a agir como se fosse uma religião.
Um autêntico ateu não deve preocupar-se com as pessoas que acreditam em Deus. Nem demonstrar interesse em convencê-las do contrário, pois o ateísmo verdadeiro não é uma religião profana a procura de adeptos. Por que deveria o ateu tentar salvar as pessoas da perigosa ilusão da existência de Deus? Se ele assim proceder, estará fazendo de sua crença uma missão salvacionista.
Os pais que ensinam ou obrigam os seus filhos a seguir a sua religião, estão privando-os do seu direito de escolha. É uma forma, embora não intencional, de condicionamento psicológico, ou, na pior das hipóteses, de lavagem cerebral.
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